quarta-feira, 16 de abril de 2008

Correio Caros Amigos



O Correio Caros Amigos, segundo o próprio site é um informativo da editora Casa Amarela totalmente gratuito de periodicidade semanal destinado a estimular o debate e disseminar informações importantes e relevantes para todos nós.
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· 31/08/2007: A picanha da classe média – Carlos Azevedo
· 09/09/2007: A questão da nomemclatura - Guilherme Scalzilli
· 12/09/2007: A fila, ora a fila - Carol Damasco
· 19/09/2007: A marcha dos “sem-mídia” - Lula Miranda
· 04/10/2007: No meio do caminho - Rodrigo Ciríaco
· 31/10/2007: O casal Kirchner - Mariana Camarotti, de Buenos Aires
· 08/11/2007: O PMDB e o fisiologismo político - Dejalma Cremonese
· 27/11/2007: Chávez e o Império - Carlos Azevedo
· 29/11/2007: Quanto e Quem - Pedro Cardoso da Costa
· 01/02/2008: Morreu um Homo sapiens sapiens - Mylton Severiano
· 15/02/2008: Assassinatos políticos no Brasil hoje - Natalia Viana
· 22/02/2008: Fidel não surpreendeu os cubanos - Jorge Garrido
· 29/02/2008: Tailândia, Pará, Brasil, entre muitas aspas
· 07/03/2008: A mídia como arma de guerra - Izaías Almada
· 14/03/2008: Cem Marias para cada Madeleine - Natalia Viana
· 27/03/2008: Serjão, fique por perto - Vinícius Souto
· 31/08/2007 a 27/03/2008:Pacote Correio Caros Amigos
· Diretório onde se encontram os fascículos

A picanha da classe média
por Carlos Azevedo

Recentemente, tenho lido com freqüência manifestações indignadas segundo as quais, enquanto a classe média (elite) dá um duro danado para construir o Brasil, trabalha, paga impostos etc., o povo fica só de “chupim”, vivendo do Bolsa Família. A Veja acaba de publicar uma pesquisa que, de acordo com a interpretação da revista, demonstra ser a elite o que há de melhor no país, e que todo o nosso atraso se deve à ignorância do povo.
Fiquei impactado com essas revelações luminosas, mas não perdi a fome (afinal, ninguém é de ferro, nem a elite e muito menos o povo). Fui a um restaurante e pedi uma picanha. Ela veio no ponto, rosadinha e macia. Agradeci à classe média por essa maravilha. Quantos dias de trabalho deve ter custado a essas senhoras e senhores respeitáveis, cidadãos cumpridores de seus deveres, fazer uma picanha como essa? Tem que cuidar da vaca, do bezerrinho dela, dando ração todo dia, curando suas doenças até virar novilho, tudo isso pisando em bosta de boi, sem esquecer aquele cheiro de curral. Depois, matar o boi etc. etc., até extrair a maravilhosa picanha. Enquanto isso, o povo ó!, só no Bolsa Família.
Aí, peguei meu carro para ir para casa. E agradeci de novo à classe média laboriosa pelo petróleo que ela produz generosamente. (Não, não são os petroleiros, você precisa ler mais a Veja.) E pelo seu ingente trabalho de plantar cana, fazer álcool, para misturar na gasolina. Agradeci pelo carro também, porque quem senão ela faz o carro? E assim fui pensando em tudo de bom que a classe média produz, meus sapatos, as roupas, meu chapéu (eu uso chapéu quando faz frio!); em tudo que ela constrói, os prédios, as ruas, as estradas. E tudo o mais: telefone celular, televisão, computador, Internet... Percebo que Adam Smith, Ricardo e Karl Marx enganaram-se redondamente em dizer que o valor vem do trabalho. Ele vem é da classe média!
E acabei pasmo, pensando em como é difícil para a classe média (elite) ter de carregar nas costas esses milhões de operários, técnicos, cientistas, trabalhadores na agricultura, bóias-frias, camponeses sem terra, índios, esses vagabundos! Ainda bem que ela consegue se distrair nos shopping centers, cinemas, na televisão a cabo, no Orkut (que ela fez), matar a saudade da Disney comendo sanduíche do Mcdonalds (que a classe média americana fez). Oh, meu Deus, que peso! Não é de estranhar que esteja tão cansada! Por que o governo não cria também uma Bolsa Classe Média?

Carlos Azevedo é jornalista