domingo, 13 de janeiro de 2008

Raimundo Lúlio - Ramon Llull






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Institut Ramon Llull
Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio
Textos traduzidos de Ramon Llull. Coordenação: Prof. Dr. Ricardo da Costa

Raimundo Lúlio, em catalão Ramon Llull, (Palma de Maiorca, 1232/1233 — 1315/1316; também conhecido como Raimundo Lulio em castelhano, como Raimundus ou Raymundus Lullus por autores extrangeiros e como Raymond Lully pelos anglo-saxões) foi o mais importante escritor, filósofo, poeta, missionário e teólogo da língua catalã. Foi um prolífico autor também em árabe e latim, bem como em Langue d'Oc (occitano). É beato da Igreja Católica.

Foi um leigo próximo aos franciscanos, talvez tenha pertencido à Ordem Terceira dos Frades Menores. É conhecido como "Doctor Illuminatus", embora não seja um dos 33 Doutores da Igreja Católica.

Nasceu em Palma de Maiorca, pouco tempo após a conquista de Maiorca pelo rei D. Jaime I de Aragão. Não se sabe a data exata do seu nascimento, mas calcula-se que ocorreu entre fins de 1232 e começos de 1233. Ramon era filho de uma família de boa situação financeira, eram seus pais Ramon Amat Llull e Isabel d'Erill.

De acordo com Umberto Eco , o lugar do nascimento foi determinante para Llull, pois Maiorca era uma encruzilhada, ná época, das tres culturas: cristã, islâmica e judia, até o ponto de que a maior parte de suas 280 obras conhecidas terem sido escritas inicialmente em árabe e catalão. [1].

Além de ser o primeiro autor que utilizou uma língua neolatina para expressar conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos e de se destacar por uma aguda percepção que o permitiu antecipar muitos conceitos e descobrimentos, foi o criador do catalão literário, com um elevado domínio da língua e seu primeiro novelista.

De família cristã, Lúlio conviveu com muçulmanos e judeus em sua ilha de origem, Maiorca. Lúlio converteu-se definitivamente ao cristianismo em 1263, no ano da famosa Disputa de Barcelona, entre um teólogo judeu, o mestre Mosé ben Nahman de Girona, e um judeu convertido, Pau Crestià. Nessa Disputa, foi utilizado o procedimento de partir das argumentações do livro revelado do opositor. A partir dessa época, os apologetas cristãos passaram a estudar em profundidade os textos islâmicos e judeus.

Mas Lúlio seguiu uma outra vertente. Em seu diálogo interreligioso, motivado pela tentativa missionária de conversão do "infiel", preferia partir do que chamava de "razões necessárias". É o que desenvolve, por exemplo, em O Livro do Gentio e dos Três Sábios (1274-1276).

Futuramente, criará uma forma de argumentação baseada na automatização do pensamento, na chamada Grande Arte, utilizando um procedimento baseado na Zairja.

Conhecido em seu tempo pelos apelidos de Arabicus Christianus (árabe cristiano), Doctor Inspiratus (Doutor Inspirado) ou Doctor Illuminatus (Doutor Iluminado), Llull é uma das figuras mais fascinantes e avançadas dos campos espiritual, teológico e literário da Idade Média. Em alguns de seus trabalhos propos metodos de escolha, que foram redescobertos séculos mais tarde por Condorcet (século XVIII).

Citação
Natal
" Adoro o Menino abençoado, Deus e homem, a sua divindade, a sua humanidade e todo o bem que há nele, já que a ele toda adoração objetiva e, finalmente, deve ser endereçada. Adoro nele a soberana bondade, a soberana grandeza e todas as demais qualidades incriadas; e, sendo ele homem, adoro também essas mesmas qualidades tal como foram criadas; e como todas as coisas foram feitas por ele, adoro o seu entendimento, e a sua boa vontade adoro, e qualquer outra ação sua; e a ele ofereço toda a minha inteligência, todo o meu poder e todo o meu agir, e, se mais pudesse, mais diria para a sua glória e a sua honra. Adoro o Menino que há de sofrer a paixão, há de ser sepultado e há de ressuscitar no terceiro dia, e com toda a glória dele adoro também a bem-aventurada Virgem sua sacratíssima Mãe." (Ramon Llull, em : Do nascimento do Menino Jesus, Escritos antiaverroístas, EDIPUCRS, Porto Alegre 2001, p. 64)

Mito da Caverna




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O mito da caverna, também chamada de Alegoria da caverna, é uma parábola escrita pelo filósofo Platão, e encontra-se na obra intitulada A República (livro VII). Trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade.

Alguns ainda chamam de Os prisioneiros da caverna ou menos comumente de A parábola da caverna,

Resumo

Imaginemos um muro alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali.

Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira.

Os prisioneiros julgam que essas sombras eram a realidade

Um dos prisioneiros decide abandonar essa condição e fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. Aos poucos vai se movendo e avança na direção do muro e o escala, com dificuldade enfrenta os obstáculos que encontra e sai da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza.

A teoria da Caverna Platão, República, Livro VII, 514a-517c

Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos "robertos" colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles. – Estou a ver – disse ele.

– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objectos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.

– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.

– Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projectadas pelo fogo na parede oposta da caverna?

– Como não – respondeu ele –, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?

– E os objectos transportados? Não se passa o mesmo com eles ?

– Sem dúvida.

– Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam estar a nomear objectos reais, quando designavam o que viam?

– É forçoso.

– E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse, não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava?

– Por Zeus, que sim!

– De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão a sombra dos objectos.

– É absolutamente forçoso – disse ele.

– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objectos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objectos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objectos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objectos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?

– Muito mais – afirmou.

– Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objectos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe mostravam?

– Seria assim – disse ele.

– E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objectos?

– Não poderia, de facto, pelo menos de repente.

– Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objectos, reflectidas na água, e, por último, para os próprios objectos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.

– Pois não!

– Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar.

– Necessariamente.

– Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que eles viam um arremedo.

– É evidente que depois chegaria a essas conclusões.

– E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os outros?

– Com certeza.

– E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prémios para o que distinguisse com mais agudeza os objectos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo "servir junto de um homem pobre, como servo da gleba", e antes sofrer tudo do que regressar àquelas ilusões e viver daquele modo?

– Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira.

– Imagina ainda o seguinte – prossegui eu -. Se um homem nessas condições descesse de novo para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?

– Com certeza.

– E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão ? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam ?

– Matariam, sem dúvida – confirmou ele.

– Meu caro Gláucon, este quadro – prossegui eu – deve agora aplicar-se a tudo quanto dissemos anteriormente, comparando o mundo visível através dos olhos à caverna da prisão, e a luz da fogueira que lá existia à força do Sol. Quanto à subida ao mundo superior e à visão do que lá se encontra, se a tomares como a ascensão da alma ao mundo inteligível, não iludirás a minha expectativa, já que é teu desejo conhecê-la. O Deus sabe se ela é verdadeira. Pois, segundo entendo, no limite do cognoscível é que se avista, a custo, a ideia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo; que, no mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela a senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular e pública.

Interpretação da alegoria

Platão referia-se aos seus contemporâneos, com suas crenças e superstições. O filósofo era qual um fugitivo capaz de fugir das amarras que prendem o homem comum às suas falsas crenças e, partindo na busca da verdade, consegue apreender um mundo mais amplo. Ao falar destas verdades para os homens afeitos às suas impressões, não apenas não seria compreendido, como tomado por mentiroso, um corruptor da ordem vigente.

O que é capaz de se libertar das ilusões, deve atuar na desmistificação das sombras do povo (Talvez uma das primeiras bases para o renascimento Iluminista), o que justifica o fato de por meio da dialética chegar-se a bases mais concretas, e principal tese da Obra " A República" de Platão.

Exemplos

Este tema é comentado durante a história por muitos filósofos e outros autores, como Calderón de la Barca com A vida é um sonho. Exemplos mais modernos podem ser o livro Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley, 1932) ou o filme Matrix (Irmãos Wachowski, 1999) (especialmente o primeiro).

Discurso do Método - René Descartes




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Texto integral, online:
Livro digitalizado em formato pdf
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Discurso do método (em português)
Discours de la méthode (em francês)
Discourse on method (em inglês)

Outros links:
Internet Enciclopedy of Philosophy: Descartes
Stanford Encyclopedia of Philosophy: Descartes' Epistemology
Philosophy Pages: Descartes
Os três sonhos de Descartes

O Discurso sobre o método, por vezes traduzido como Discurso do método – ou ainda Discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência (em francês, Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences) – é um tratado matemático e filosófico de René Descartes, publicado em francês em Leiden em 1637. Ele inicialmente apareceu junto a outros trabalhos de Descartes, Dioptrique, Météores e Géométrie. Uma tradução para o latim foi produzida em 1656, e publicada em Amsterdam.

Constitui, ao lado de Meditações sobre filosofia primeira (Meditationes de prima philosophia), Princípios de filosofia e Regras para a direção do espírito (Regulae ad directionem ingenii), a base da epistemologia do filósofo, sistema que passou a ser conhecido como cartesianismo. O Discurso propõe um modelo quase matemático para conduzir o pensamento humano, uma vez que a matemática tem por característica a certeza, a ausência de dúvidas.

Segundo o próprio Descartes, parte da inspiração de seu método (descrito nesse livro/tratado) deveu-se a três sonhos ocorridos na noite de 10 para 11 de novembro de 1619: nestes sonhos lhe havia ocorrido “a idéia de um método universal para encontrar a verdade.”

Discurso sobre o método foi escrito em vernáculo (os textos filosóficos costumavam ser escritos em latim), de maneira não-doutrinária, pois Descartes tentou popularizar ao máximo os conceitos ali expressos e de maneira não impositiva, mas compartilhada. Em toda a obra permeia a autoridade da razão, conceito banal para o homem moderno, mas um tanto novo para o homem medieval (muito mais acostumado à autoridade eclesiástica). A autoridade dos sentidos (ou seja, as percepções do mundo) também é particularmente rejeitada; o conhecimento significativo, segundo o tratado, só pode ser atingido pela razão, abstraindo-se a distração dos sentidos. Uma das mais conhecidas frases do Discurso é Je pense, donc je suis (citada frequentemente em latim, cogito ergo sum; penso, logo existo): o ato de duvidar como indubitável, e as evidências de “pensar” e “existir” ligadas.

Além dessa conclusão, Descartes também prova a existência de Deus, especifica critérios para a boa condução da razão e faz algumas demonstrações.

Divisão e conteúdo da obra

O Discurso está dividido em seis partes, e possui uma breve introdução. Nesta, Descartes já enfatiza a divisão do livro e explica o que o leitor encontrará em cada uma das seis partes:
  • na primeira, diversas considerações sobre a ciência
  • na segunda, as principais regras sugeridas por ele para a prática científica
  • na terceira, algumas das justificativas do método
  • na quarta, as provas da existência de Deus e da alma humana, fundamentos da metafísica
  • na quinta, Descartes faz algumas aplicações do método a questões físicas e relativas à medicina; também as particularidades da alma humana
  • na sexta, as razões que o levaram a escrever o tratado e aquilo que Descartes acredita ser essencial para o progresso do conhecimento
Os quatro preceitos

O método de raciocínio proposto por Descartes no Discurso compõe-se de quatro partes distintas, sintetizadas na passagem seguinte:
“Le premier étoit de ne recevoir jamais aucune chose pour vraie que je ne la connusse évidemment être telle; c'est-à-dire, d'éviter soigneusement la précipitation et la prévention, et de ne comprendre rien de plus en mes jugements que ce qui se présenteroit si clairement et si distinctement à mon esprit, que je n'eusse aucune occasion de le mettre en doute. Le second, de diviser chacune des difficultés que j'examinerais, en autant de parcelles qu'il se pourroit, et qu'il seroit requis pour les mieux résoudre. Le troisième, de conduire par ordre mes pensées, en commençant par les objets les plus simples et les plus aisés à connoître, pour monter peu à peu comme par degrés jusques à la connoissance des plus composés, et supposant même de l'ordre entre ceux qui ne se précèdent point naturellement les uns les autres. Et le dernier, de taire partout des dénombrements si entiers et des revues si générales, que je fusse assuré de ne rien omettre.” (Discurso, parte 2)

Simplificadamente, são os passos ou preceitos:

  1. Receber escrupulosamente as informações, examinando sua racionalidade e sua justificação. Verificar a verdade, a boa procedência daquilo que se investiga – aceitar o que seja indubitável, apenas. Esse passo relaciona-se muito ao cepticismo.
  2. Análise, ou divisão do assunto em tantas partes quanto possível e necessário.
  3. Síntese, ou elaboração progressiva de conclusões abrangentes e ordenadas a partir de objetos mais simples e fáceis até os mais complexos e difíceis.
  4. Enumerar e revisar minuciosamente as conclusões, garantindo que nada seja omitido e que a coerência geral exista.


O método cartesiano. No preceito ou passo 1, as coisas indubitáveis (círculos marcados com i) passam por um "funil", que impede a passagem de coisas que tragam dúvidas (d). No segundo, as coisas são analisadas, ou seja, divididas para melhor compreensão; no terceiro, procede-se a síntese, ou agrupamento em graus de complexidade crescente. No último passo, as conclusões são ordenadas e classificadas.

Estas operações reconstituiriam as três operações elementares da mente humana, a indução (que consiste em captar realidades mínimas), a dedução (agrupar observações e inferir resultados) e a enumeração (acompanhada da revisão e reelaboração de conceitos).

Estes preceitos são colocados em alegoria com a demolição de uma casa (o antigo método de pensamento que Descartes empregava) e a construção de um edifício seguro (o novo Método). A metáfora da construção pode ser encontrada, por exemplo, na afirmação acerca da utilidade da dúvida hiperbólica (que não seria simplesmente o duvidar por duvidar):

“Non que j'imitasse pour cela les sceptiques, qui ne doutent que pour douter, et affectent d'être toujours irrésolus; car, au contraire, tout mon dessein ne tendoit qu'à m'assurer, et à rejeter la terre mouvante et le sable pour trouver le roc ou l'argile.” (Discurso, parte 3)
(“Não que eu imitasse os cépticos, que duvidam apenas por duvidar, e ostentam apenas manter-se em irresolução; pois, ao contrário, todo o meu projeto era simplesmente firmar-me na certeza, e rejeitar a terra e areia instável em prol de colocar-me em rocha ou argila.”)

A inspiração, por sua vez, vinha da geometria, na qual partia-se de conceitos simples para descrever progressivamente entidades mais complexas:

“Ces longues chaînes de raisons, toutes simples et faciles, dont les géomètres ont coutume de se servir pour parvenir à leurs plus difficiles démonstrations, m'avoient donné occasion de m'imaginer que toutes les choses qui peuvent tomber sous la connoissance des hommes s'entresuivent en même façon[...]” (Discurso, parte 4)
(“Estas longas cadeias de razão, todas simples e fáceis, sobre as quais os geômetras costumam se servir para chegar às mais difíceis demonstrações, me levaram a imaginar que todas as coisas que podem penetrar na consciência dos homens são ligadas da mesma maneira [...]”)

A prova ontológica (cogito ergo sum)


Na quarta parte do Discurso Descartes realiza a prova ontológica, ou seja, a prova da existência do ser e também a prova da existência de Deus.

Aplicando o método a si mesmo, Descartes confronta o próprio raciocínio. Ele argumenta que, embora a mente possa tanto raciocinar sobre coisas reais quanto sobre coisas de sonhos, enquanto acordado ou dormindo respectivamente, ele não pode, ao refletir sobre a veracidade desses pensamentos, negar que esteja pensando; e como sujeito pensante, conclui que é seguro supor a própria existência:
“Mais aussitôt après je pris garde que, pendant que je voulois ainsi penser que tout étoit faux, il falloit nécessairement que moi qui le pensois fusse quelque chose; et remarquant que cette vérité, je pense, donc je suit, étoit si ferme et si assurée, que (...) je jugeai que je pouvois la recevoir sans scrupule pour le premier principe de la philosophie que je cherchois.” (Discurso, parte 4)
(“Mas imediatamente que eu observava isso, que os pensamentos de sonho se confudem com a realidade], ainda assim eu desejava pensar que tudo era falso, era absolutamente necessário que eu, quem pensa, seja algo; e enquanto eu observava que isso é verdadeiro, eu penso, logo existo, era tão certo e tão evidente que (...) eu aceitei este como primeiro princípio de filosofia, que eu estava refletindo.”)

Consoante, qualquer esforço para duvidar de sua própria existência era uma ocorrência de pensamento, e essa ocorrência exigia um sujeito pensante, ainda que mínimo. Eis portanto a prova da existência de mim mesmo.

É preciso notar ainda que não é qualquer ato do eu que determina a existência. Um andar não provaria essa existência, uma vez que andar pode trazer a dúvida da existência das próprias pernas; somente um pensamento (seja ela uma dúvida, um desejo, uma afirmação, uma sensação ou similares) é indubitável e portanto adequa-se ao Método. Somente o pensamento, quando percebido, garante a existência do eu.

Existência de Deus

A existência de Deus é provada porque, existindo a razão e o pensamento, é preciso haver um fiador dessa razão e desse pensamento, algo que lhe dê coerência. Pela razão, existe Deus. Trata-se da retomada do pensamento de Aristóteles, do noesis noeseos (pensamento do pensamento), ou o "motor imóvel". Além disso, Descartes demonstra que as idéias de perfeito, infinito e similares, são tão transcendentes a ele, ser imperfeito e finito, que é preciso haver algo de onde essa idéia venha, que não o próprio ser pensante:

“Ensuite de quoi, faisant réflexion sur ce que je doutois, et que par conséquent mon être n'étoit pas tout parfait, car je voyois clairement que c'étoit une plus grande perfection de connoître, que de douter, je m'avisai de chercher d'où j'avois appris à penser à quelque chose de plus parfait que je n'étois; et je connus évidemment que ce devoit être de quelque nature qui fût en effet plus parfaite. (...) C'est à dire, pour m'expliquer en un mot, qui fût Dieu.” (Discurso, parte 4)
(“A seguir, fazendo a reflexão sobre o fato de que eu duvido, e que por conseguinte meu ser não era absolutamente perfeito, porque eu via claramente que era perfeição maior conhecer do que duvidar, eu percebi que dessa reflexão concluía a existência de algo mais perfeito que eu era; e eu claramente percebi que essa percepção vinha de uma natureza que era de fato mais perfeita [que a minha]. (...) Para ser dito em uma palavra, que era Deus.”)

Alguns dizem (um tanto implausivelmente) que Descartes incluiu a prova da existência de Deus apenas para satisfazer os censores do período. Os seguidores de Descartes logo perceberam que a dúvida metódica também poderia aplicar-se a Deus; de fato, a prova da existência de Deus é uma das partes mais fracas da argumentação de Descartes. Nas Meditações Descartes também argumentará a existência de Deus através da suposição de que o pensamento de Deus contém também sua existência; o pensamento que contém o próprio pensado.

Aplicação do método nas ciências

Descartes mostra, no penúltimo capítulo do Discurso, a aplicação prática do método a algumas questões científicas. Entre elas, destaca-se a descrição dos animais não-humanos como máquinas orgânicas complexas, marca do mecanicismo atribuído a Descartes.

De fato, Descartes afirma que vários dos comportamentos do próprio ser humano são passíveis de explicações mecânicas. O que diferenciaria o ser humano dos demais animais seria a capacidade de responder criativamente ao meio, em especial através da linguagem. Trata-se de uma antecipação do famoso teste de Turing, usado para determinar a existência de inteligência com base na capacidade criativa de algo ou alguém.

O Método, em seu aspecto de dividir, ordenar e classificar, é a base de muitos conceitos científicos que vieram a ser desenvolvidos nos anos subseqüentes, de grande importância para a humanidade: o sistema de coordenadas cartesiano, o cálculo, a geometria analítica e a disposição estatística em histogramas.

A grande contribuição (para alguns, desastrosa) de Descartes para a ciência moderna está, efetivamente, na descaracterização de um mundo enquanto qualitativo e sua redução a um mundo puramente quantitativo. Do Discurso, conclui-se que Deus existe, assim como o eu pensante ou alma (res cogitans) e a matéria ou extensão (res extensa, isto é, o corpo - esta concessão ao realismo trouxe muitos problemas ao idealismo); tudo mais deve ser expresso em termos destas existências.