sexta-feira, 23 de maio de 2008

Fiódor Dostoiévski


Fonte dos dados acerca do autor: EducaçãoUol

Diretorio onde se encontram os livros

Todas as obras diponiveis

* Obras disponiveis no arquivo rar:

Fiodor Mikhailovich Dostoievski foi uma das maiores personalidades da literatura russa, tido como fundador do Realismo.

Sua mãe morreu quando ele era ainda muito jovem e seu pai, o médico Mikhail Dostoievski, foi assassinato pelos próprios colonos de sua propriedade rural em Daravoi, que o julgavam autoritário. Esse fato exerceu enorme influência sobre o futuro do jovem Dostoiévski e motivou o polêmico artigo de Freud: "Dostoiévski e o Parricídio".

Em São Petersburgo, Dostoiévski estudou engenharia numa escola militar e se entregou à leitura dos grandes escritores de sua época. Epilético, teve sua primeira crise depois de saber que seu pai fora assassinado. Sua primeira produção literária, aos 23 anos, foi uma tradução de Balzac ("Eugénie Grandet"). No ano seguinte escreveu seu primeiro romance, "Pobre Gente", que foi bem recebido pelo público e pela crítica.

Em 1849 foi preso por participar de reuniões subversivas na casa de um revolucionário, e condenado à morte. No último momento, teve a pena comutada por Nicolau 1o e passou nove anos na Sibéria, quatro no presídio de Omsk e mais cinco como soldado raso. Descreveu a terrível experiência no livro "Recordações da Casa dos Mortos" e em "Memórias do Subsolo".

Suas crises sistemáticas de epilepsia, que ele atribuía a "uma experiência com Deus", tiveram papel importante em suas crenças. Inspirado pelo cristianismo evangélico, passou a pregar a solidariedade como principal valor da cultura eslava. Em 1857 casou-se com Maria Dmitrievna Issaiev, uma viúva difícil e caprichosa. Dois anos depois retornou a Petersburgo. Em 1862 conheceu Polina Suslova, que viria a ser o seu romance mais profundo. Em 1864, viúvo de Maria, terminou seu caso com Polina e em 1867 casou-se com Anna Snitkina.

Entre suas obras destacam-se: "Crime e Castigo", "O Idiota", "O Jogador", "Os Demônios", "O Eterno Marido" e "Os Irmãos Karamazov".

Publicou também contos e novelas. Criou duas revistas literárias e ainda colaborou nos principais órgãos da imprensa Russa.

Seu reconhecimento definitivo como escritor universal surgiu somente depois dos anos 1860, com a publicação dos grandes romances: "O Idiota" e "Crime e Castigo". Seu último romance, "Os Irmãos Karamazov", é considerado por Freud como o maior romance já escrito.

Dostoiévski, Heidegger, Técnica e Ética

Fonte do artigo digitalizado: UFSC

Links: Artigo digitalizado em formato pdf

Dostoiévski, Heidegger, Técnica e Ética
Claudia Drucker
Universidade Federal de Santa Catarina

Dostoiévski e Heidegger não tentaram escrever uma teoria contemporânea nem do dever, nem da virtude. Talvez por isso, freqüentemente são apontados como exemplos de niilismo e fracasso moral. Mas a deficiência que Dostoiévski vê na ética do seu tempo é semelhante à que Heidegger encontra em todo pensamento que não leva a técnica em consideração. A ética é uma forma do niilismo. Na melhor das hipóteses, ela não dá uma resposta adequada para as questões mais importantes. Na pior, é ditada pela essência da técnica.

Dostoiévski - Os Irmãos Karamazov - 1879


Fonte do livro digitalizado: Projeto Democratizacao da Leitura

Fonte dos dados acerca do livro: Crítica Literária

Links:
Livro digitalizado em formato pdf
Diretorio onde se encontra o livro

Sem dúvida um dos melhores, senão o melhor, romances que eu já tive o prazer de ler. Num dos trechos do livro Ivan questiona o porquê de deus permitir o sofrimento de uma criança(que ele, assim como eu, acredita ser inocente), ao ler tal trecho me senti "roubado", era como se Dostoiévski tivesse lido minha mente e colocado meus pensamentos na boca do Ivan ...

O mistério da existência

por Tiago Ferreira

Este foi o último grande romance de Dostoiévski (1879-1880), terminado pouco tempo antes da sua morte, em São Petersburgo (1881). Faz parte das sua obras maiores, juntamente com Crime e Castigo (1886), O Idiota (1868) e Os Possessos (1871-1872), todas elas escritas na fase final da vida, sem dúvida mais produtiva.

Radicalismos da boemia, impulsão dos sentimentos individuais, infortúnio dos pensamentos sociais, repúdio aos excessos moralistas da humanidade. Podem parecer retratações perturbadoras e conflitantes na mente de um único ser. Mas se quer encontrar todas essas indagações existencialistas e as contradições psicológicas que permeiam o cérebro humano, basta pegar em mãos o livro Os Irmãos Karamazov, complexo romance de Fiódor Dostoiévski.

Publicado dois anos antes da sua morte (1879), Os Irmãos Karamazov tem sua narrativa centralizada no ato do parricídio. Ação é conseqüência do pensamento. E, mesmo negando a acepção de psicólogo que muitos leitores e apreciadores de sua obra denominam, Dostoiévski traça um perfil minucioso, sem ser muito intricado, de cada personagem que faz parte do romance.

Fiódor Pávlovitch Karamazov é um velho sedutor e estúpido que não segue regras morais e só pensa na satisfação de seus desejos individuais. É pai de três filhos, dos quais nem dava atenção, chegando a cair no esquecimento da existência deles no período de suas infâncias.

Ivã Karamazov, filho mais velho, é o mais inteligente e questionador, porém ao mesmo tempo negligente e amoral. Tanto que é autor de ‘O Grande Inquisidor’, artigo que contesta a ideologia moralista e rompe as barreiras psicológicas da ‘normalidade’, indagando a inexistência de um ser superior. ‘Se Deus não existe, tudo é permitido’ é a finalidade de seu pensamento. Argumento que Smierdiákov toma como ponto de partida para cometer o assassínio de Fiódor Pavlovitch, que não o reconhecera como pai.

Aliéksiei Fiódorovitch Karamazov e Dmítri Karamazov são os outros dois filhos do velho boêmio. Aliéksiei, tratado como Aliócha no romance, é o mais novo e viveu grande parte de sua vida em um mosteiro, tendo como mentor um ancião moribundo e religioso. Aliócha é o personagem ‘heróico’, como alega Dostoiévski no prefácio de seu livro; apóia os irmãos, ajuda quem precisa e crê no divino. Apesar de grande fé, não contraria o niilismo de Ivã e acredita na inocência de Dmítri, culpado de assassinar o pai por disputarem o amor de Grúchenchka, que brincava com o sentimento de ambos.

A discussão do romance vai da existência individual no mundo à crítica ao pensamento hegemônico da sociedade. Cada personagem possui divergentes temperamentos e interesses, sem deixar de terem o tratamento dostoievskiano – entenda-se dramas mentais, capacidade analítica de interpretarem o cotidiano às suas maneiras, sutil perspicácia e vítimas de uma moral dominante.

Dostoiévski dá bastante importância às realidades dos irmãos Ivã, Dmítri e Aliócha a ponto de separar exclusivos capítulos retratando fatos que os permeiam, a influência de determinadas personagens e pensamentos em suas vidas e o temperamento situacional de cada um. Dmítri é impulsivo e violento. Aliócha, têmpero e complacente. Já Ivã, cético e imparcial.

No momento da morte de Fiódor Pávlovitch, Dostoiévski traça minuciosamente a chegada de seu filho Dmítri à sua casa, desenvolvendo o longo da romance até o fato transparecendo a teoria de sua culpabilidade no crime, mas sem deixar comprometedores vestígios de quem realmente foi o assassino. O escritor brinca com a narrativa, mesclando distúrbios interiores do ser humano com uma cronologia similar aos romances policiais, onde permanece o mistério do assassinato.

A complexidade de Os Irmãos Karamazov não está no grande número de acontecimentos sucessivos, mas na perspectiva ideológica de cada personagem, como encaram a realidade em que vivem e o sincretismo egocêntrico individual, que mistura a homogênea ideologia do público com a heterogeneidade particular.

O resultado dessa vasta síntese é uma estória atrativa que desloca uma linear corrente de pensamento, suscitando uma inevitável redargüição da família e religião, moral e ética, crime e punição, sendo contemporâneo sem deixar de ser clássico. Os Irmãos Karamazov, realista do começo ao fim, é uma obra tão ampla quanto a nossa existência. Não é a toa que é tido pelo gênio da psicanálise Sigmound Freud como “a maior obra de todos os tempos”.

Dostoiévski - O Grande Inquisidor - 1879


Fonte do livro digitalizado: Projeto Democratizacao da Leitura

Fonte dos texto acerca do livro: Vida Acadêmica

Links:
Livro digitalizado em formato pdf
Diretorio onde se encontra o livro


Para esse livro/trecho selecionei um texto do Ricardo Gondim, evangélico que se desencantou com o "mundo evangélico" e desde então vem denunciando o circo que muitos líderes religiosos fazem nas suas "igrejas".

Como aprendi a gostar de Dostoiévski - 2/5/06

por Ricardo Gondim

Falaram-me bem do romancista russo Fiódor M. Dostoiévski, e eu, curioso, comprei Os irmãos Karamázov. A princípio, não acostumado aos nomes dos personagens, não gostei da narrativa. Mas logo, deliciei-me com Dostoiévski e, hoje, o considero um dos maiores escritores de todos os tempos.

Ivan, o personagem agnóstico da família Karamázov, era um grande inimigo do cristianismo. Para enriquecer seus argumentos e contestar seu irmão Aliócha, um crente genuíno, ele criou a historieta do Grande Inquisidor. Ivan imaginou Cristo voltando à terra pela segunda vez em Madri, durante a Inquisição.

Enquanto Jesus operava milagres curando e ressuscitando mortos, o cardeal da cidade, o Grande Inquisidor, reconheceu o Senhor e o prendeu. Na penitenciária, questionou Cristo para saber por que ele voltara. O diálogo tornou-se tenso e cheio de revolta: "És Tu, és Tu?". Não recebendo resposta, acrescentou rapidamente: "Não digas nada, cala-te. Aliás, que mais poderias dizer? Sei demais. Não tens o direito de acrescentar uma palavra mais ao que já disseste outrora. Por que vieste estorvar-nos?".

O sacerdote extravasou sua ira porque Cristo havia proposto uma liberdade diferente da pregada pela igreja. Raivoso, alegou que "foram necessários quinze séculos de rude labor" para restaurar o estrago feito por Jesus e devolver aos homens o que ele considerava a verdadeira liberdade. Diante de Cristo manietado, continuou mostrando que a religião possuía uma liberdade maior que a de Jesus: "Fica sabendo que jamais os homens se acreditaram tão livres como agora, e, no entanto, eles depositaram a liberdade humildemente a nossos pés". O Grande Inquisidor, a seguir, passou a ensinar para Jesus que seu maior erro foi acreditar que os seres humanos valorizam o livre-arbítrio. A igreja teria corrigido essa falha. Tanto ele como seus colegas de sacerdócio vinham se esforçando por suprimir a liberdade proposta por Jesus com o propósito de tornar os homens mais felizes.

O Grande Inquisidor acusou Cristo de haver fracassado na tentação do deserto. Ele só recusara a proposta do Diabo de transformar pedras em pão (Mt 4.1-11) para não privar a humanidade de experimentar verdadeira liberdade. Caso ele operasse o milagre, os homens teriam obrigação de se tornarem seus discípulos, pois a sobrevivência humana dependeria de futuras intervenções divinas. Jesus achava que estaria comprando a lealdade de seus seguidores a preço de pão. E a acusação do Inquisidor concentrou-se em mostrar a inutilidade dessa opção do Senhor, pois as pessoas não querem viver livres.

O Grande Inquisidor usa do mesmo argumento quando afirma que Cristo errara ao abdicar à prerrogativa de pedir que Deus o livrasse fazendo-o aterrissar suavemente caso se jogasse do pináculo do templo. Segundo o algoz sacerdote, era vão querer discípulos por amor. As pessoas desejam seguir a Deus em troca de milagres e maravilhas. Elas negociariam a liberdade pela segurança de um mundo previsível, sempre controlado pela constante intromissão de Deus.

O religioso ainda declara que Cristo cometera um monumental deslize ao recusar a oferta do Diabo de conquistar os reinos do mundo. Bastava que ele o adorasse por um instante e não haveria mais guerras, fomes ou injustiças no planeta. Os reinos pertenceriam a ele e a ordem estaria segura.

Ao ler Dostoiévski percebo tanto a universalidade como contemporaneidade de seu pensamento. A religião anda na contramão do ensino de Jesus quando promete um mundo sem percalços e sempre previsível. Quando Os irmãos Karamázov foi escrito, essa teologia utilitária, que promete dourar a pílula da vida, ainda não se difundira tanto, mas foi amplamente denunciada. Jesus não quer ser amado pelo que dá, mas por quem ele é.

Os evangélicos brasileiros precisam acordar para o cerne do Evangelho que não promete um mundo seguro, sem perigos e livre de sofrimentos. A boa notícia é que o Senhor se dispõe a nos acompanhar em qualquer circunstância. Ouve-se, com freqüência, entre os evangélicos que Deus dará tudo o que seus filhos pedirem se, prostrados, o adorarem. Cuidado! Essa frase foi proferida por Satanás.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Dostoiévski - O Idiota - 1867 e 1868


Fonte do livro digitalizado: Projeto Democratizacao da Leitura

Fonte dos dados acerca do livro: IG Educacao

Links:
Livro digitalizado em formato pdf
Diretorio onde se encontra o livro



Dostoiévski é um compendio de todas as angústias, desesperos e incertezas de uma humanidade arremetida contra uma realidade massacrante, veemente e caoticamente industrializante, que não consegue resolver nem minimizar seus antigos problemas existencialistas e já se depara com uma outra gama de indagações e misérias impostas por uma crescente urbanização caótica. Dostoievski, assim como um Kafka ou um Joyce, reflete o aturdimento do homem perante a modernidade.


Em Dostoievski se agrupam ainda o descalabro de uma monarquia despótica, as maiores aspirações do povo russo (refletidas nos crescentes movimentos anarquistas e socialistas), sua saúde frágil e delicada abalada constantemente com suas crises epilépticas, sua compulsão e vicio do jogo, as perseguições dos credores, principalmente editores que lhe adiantavam pagamentos por obras que sequer estavam configuradas, morte prematura dos filhos, uma educação e infância pobres, uma tirania paterna contrabalançada pela doçura e compreensão maternas, um agudo sentido de sofrimento pelo povo rude, uma temporada de vários anos na prisão da Sibéria por envolvimento em um grupo anticzarista. Tudo embalado em um misticismo protocatólico particularmente russo, especificamente dostoievskiano.


Ler Dostoievski é mergulhar nos bruscos contrastes do ser humano. Ernesto Sábato, em sua obra "O Escritor e seus Fantasmas" cita Maurice Nodeau que afirma que "Um romance que deixe tal como era o escritor e o leitor é um romance inútil. É verdade. Quando terminamos de ler 'O Processo' não somos a mesma pessoa de antes (e com certeza muito menos Kafka depois de escrevê-lo)". Da mesma forma, não se entra impunemente em um livro de Dostoievski. O jornalista e editor da revista Cult, Manuel da Costa Pinto, comenta que "obras como 'Crime e Castigo' ou 'Ana Karênina' (Tolstói) reúnem em suas personagens e muitas vezes em uma única personagem todo o mosaico possível de acepções do humano: os abismos interiores de desejo e culpa, os determinismos materiais e a tentativa de transcendê-los social e espiritualmente, as utopias políticas e religiosas, a fronteira tênue entre sanidade e demência, lucidez e possessão".


Tudo isso está representado no personagem principal de "O IDIOTA", o Príncipe Míchkin semilouco, semi-idiota, meio santo, misto de Jesus Cristo e D. Quixote (essa, aliás, uma figura muito querida por Dostoievski). O simples fato de conseguir tornar uma tal personagem plausível, densa e complexa sem cair em esquematismos infantis e simplistas ou transformá-la em um boneco oco e vazio já demonstra um fantástico domínio da escrita (o que, como diz Paulo Bezerra em sua introdução, era justamente uma das maiores preocupações do autor).


Pois o Príncipe Míchkin cai como um cometa no meio da sociedade de Petersburgo. Por ele se agitam e transitam todas as vaidades, os egoísmos, a ganância, a luxúria. Seu rosto franco e sincero, seu olhar aparentemente tão ingênuo perpassam as mascaras, entende as almas ao seu redor. E sofre por elas.


O enredo é relativamente simples e raso (principalmente em comparação com a densidade filosófica do assassinato praticado por Raskólnikov e sua conseqüente autopunição moral, em 'Crime e Castigo' ou a discussão político-existencial de 'Os Demônios'). O Príncipe Míchkin volta para a Rússia após alguns anos se tratando na Suíça para receber uma herança que acabará com sua miséria financeira. A história serve como um condutor para a apresentação de mais uma vasta galeria de personagens dostoievskianos que representam os extremos possíveis, do sublime ao degradado, do patético ao iluminado. Desta forma, o príncipe encontra Rogójin, também recém-rico, que sacrificaria sua própria vida pela sua paixão e Gánia Ívolguin, que acredita que somente pela obtenção de dinheiro pode ser um humano completo.


As mulheres, como em toda a obra de Dostoievski possuem uma vitalidade e presença nunca antes alcançadas na literatura. Como não se impressionar pela nobre e altiva, e ao mesmo tempo terrena e concreta, Aglaia Iepántchin? Como não se apaixonar, do mesmo modo que Rogójin, por Nastácia Filíppovna, essa desconcertante síntese de pureza e maldade, a recorrente figura dostoievskiana da cortesã-prostituta-santa?

Dostoiévski - O Jogador - 1867



Fonte do livro digitalizado: Projeto Democratizacao da Leitura

Fonte dos dados acerca do livro: Shvoong.com

Fonte da carta: Lendo.org

Links:
Livro digitalizado em formato pdf
Diretorio onde se encontra o livro

Esse é um trecho de uma curiosa carta que Fiodor Dostoiévski escreve à cunhada de Paris após contato com a roleta:

Durante quatro dias observei as mesas de perto. Havia ali centenas de jogadores, mas, palavra de honra, só duas pessoas sabiam jogar! Era uma francesa e um lord inglês. Entendiam do jogo e nunca perdiam, pouco faltando para rebentar a banca. Peço-lhe, não creia que eu estava radiante de alegria porque acabava de ganhar em vez de perder, que eu me julgue um grande conhecedor do segredo do jogo. Esse segredo, aliás, bem o sei, é o que há de mais simples e estúpido. É preciso unicamente domínio sobre si mesmo e, sejam quais forem as peripécias do jogo, a gente evitar o entusiasmo excessivo. Eis tudo. Esta regra impedirá você de perder, fazendo-lhe necessariamente ganhar.


O Jogador


Uma envolvente narrativa semi-autobiográfica em uma contundente auto-análise do (pior do) ser humano. Não é segredo que Dostoiévski foi, durante muito tempo, um jogador compulsivo, o que da o empuxo do ponto de partida deste romance.

Trata da estória de Aléxis Ivanovitch, um preceptor que é visto como palpiteiro e inconveniente apenas por permanecer fiel às suas próprias convicções e não concordar com as opiniões mesquinhas da alta sociedade com a qual precisa conviver.

Assíduo freqüentador dos cassinos locais, ele cria seus métodos e cálculos no intuito de fazer fortuna na roleta. Não "apenas" para isso, mas também para ter o prazer de quebrar a banca, de fazer com que todos os que o desdenharam passem a cortejá-lo, nem que seja só enquanto durar seu dinheiro.

Costuma jogar com certa parcimônia e algum senso de responsabilidade, evitando riscos desnecessários sempre que possível, principalmente quando joga a pedido de Paulina, sua musa inspiradora. Claro que isso não dura muito tempo, pois logo ele perde o bom senso, mais especificamente numa insólita noite em que Paulina dá a entender que precisa desesperadamente de dinheiro. Aléxis, então, não perde tempo: vai até o cassino e, em menos de uma hora, quebra a banca tal como sempre desejara, no ápice da narrativa.

As gloriosas páginas nas quais o leitor é levado a assistir as peripécias do jovem Aléxis na roleta são as mais delirantes e apetitosas. A empatia pelo personagem se torna gigantesca e faz com que o leitor deseje que ele caia em si e vá para casa antes que perca tudo. A audácia e o destemor que passam a controlar o jogador são transmitidas de forma direta e sem firulas por Dostoievski até o desesperançado desfecho, em que Aléxis cai em desgraça, não apenas por conta de seu vício, mas por conta do desprezo de Paulina.

Aléxis parece não se dar conta da degradação (tanto espiritual, quando financeira) que o atingiu, provavelmente por causa de seu orgulho, que o impede de enxergar sua ruína, mas não é suficiente para fazê-lo se reerguer. A missão cabe ao sr. Astley, velho amigo de Aléxis que ao reencontrá-lo, oferece-lhe ajuda, gentileza esta que é educadamente dispensada. Parece não haver mais salvação para o jogador.

Dostoiévski - Crime e Castigo - 1866

Fonte do livro digitalizado: Projeto Democratizacao da Leitura

Fonte dos dados acerca do livro: Armadilha Poética

Texto de: Beatriz Bajo

Links:
Livro digitalizado em formato pdf
Diretorio onde se encontra o livro

Normalmente, o Armadilha Poética privilegia os novos autores, escritores contemporâneos ou aqueles que não estão freqüentemente nas primeiras prateleiras de bibliotecas e livrarias. Todavia, não resisti e precisei deixar registrada minha perplexidade em relação à leitura de um dos melhores romances que li. Evidentemente que muitos já devem ter usufruído esta maravilha de livro que mantém como original o título “Prestuplenie I Nakazanie”, escrito por nada menos que o russo Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski.

Aqui em casa, houve um surto. Meu pai leu e ficou chocado. Enquanto ele devorava o segundo volume, minha mãe viu-se tentada a descobrir o motivo de tanta euforia. E eu, na minha corrida contra o que me aparta de conhecer todos os clássicos e contemporâneos e quaisquer outros títulos dos milhares de livros que gostaria de apreciar, debrucei-me sobre a trajetória de Rodion Românovitch Raskólnikov, quem protagoniza toda a trama.

O enredo gira em torno de Raskólnikov, um estudante que vive em São Petersburgo e enfrenta grandes dificuldades financeiras. Arriscando-se, inicialmente, como professor de línguas, Rodion é um jovem, como muitos, que possui grandes ideais, no entanto, não consegue encontrar meios para viabilizá-los.

Tal personagem arquiteta uma teoria que dicotomiza homens ordinários e homens extraordinários. Entre estes, estão, por exemplo, Napoleão e César. Tomado pela consternação de sua vida sem perspectiva, o estudante pratica um crime (planeja o assassinato de uma agiota), acreditando que a senhora é uma pessoa má, um “piolho”; conseqüentemente, ele estaria fazendo um favor à sociedade. Assim como os grandes homens da história, que foram assassinos absolvidos.

No entanto, sua teoria furou na medida em que ele se deu conta de que não era extraordinário, porque carregou o peso de uma culpa que reluta em não sentir, entrando num labirinto de amarguras que convivem com as angústias do delito e seus delírios e fracassos.

Dostoiévski conduz a trama com tanta precisão, que me senti, diversas vezes, admirando um quadro, porque há uma riqueza de imagens tamanha que posso ver os filhos de Marmieládov na cena em que este chega a casa e sua mulher o arrasta pelos cabelos, pela casa inteira, quando percebe que todo o ordenado foi gasto, novamente, com bebida:

A garota que dormia acordou e começou a chorar. O rapazinho que estava no canto não pôde conter-se e começou a tremer e a gritar, e cingiu-se contra a irmã, apavorado, como se estivesse quase para sofrer um ataque. A irmãzinha mais velha tremia, colada à parede, como a folha duma árvore (p.35).

Este e diversos outros acontecimentos inesperados que passeiam pelas ruas de São Petersburgo, entre becos e tabernas e diálogos instigantes, tudo recheado com discussões acerca do existencialismo, do niilismo, da fé e da manutenção da dignidade que se sobrepõe à vileza da alma humana. Vale a pena ressaltar a nota do tradutor sobre o nome Raskólhnikov:

Nome forjado de raskol, cisão. É evidente o propósito simbolista do autor. Criando este nome, quer mostrar, através da significação do étimo, o homem cindido, atormentado pela contradição, entre as exigências que ele faz à vida, à humanidade e a si mesmo, e a capacidade para realizá-las. (p.13).

Enfim, publicado em 1866, quase 20 anos após a prisão de Dostoievski por conta de reuniões subversivas que conspiravam o assassinato de Nicolau I, Czar da Rússia. Apesar de livrar-se da condenação à morte, o autor vivenciou a prisão e a pobreza em meio à epilepsia, perturbações psicológicas e crises religiosas que reverberaram no ânimo de Raskól.

Com mais de um século de existência, o livro permanece impressionando pela magnífica capacidade descritiva e narrativa das contradições humanas: “Quiseram falar, mas não lhes foi possível. Havia lágrimas nos seus olhos. Estavam ambos pálidos e abatidos...” (p.310) assim também eu estava quando finalizava as últimas páginas dessa experiência que me rendeu alguns pesadelos durante as madrugadas e uns escritos.

Por tudo isso é que recomendo urgente a companhia de “Crime e castigo”. Quem ainda não leu que corra, porque há um universo de inusitadas emoções a serem deflagradas tanto no livro como em si mesmo, dissecações de personalidades e descobertas a cada virada de página que sem dúvida irão fazer valer as palavras aqui escritas.

Dostoiévski - Noites Brancas - 1848



Fonte do livro digitalizado: Projeto Democratizacao da Leitura
Fonte dos dados acerca do livro: Próprio livro

Links:
Livro digitalizado em formato pdf
Diretorio onde se encontra o livro

Nesta lindíssima novela os protagonistas encontram-se durante quatro noites à beira do Fontanka – somente durante quatro noites da primavera petersburguesa, que de dia alegra a cidade e os campos em redor com o brilho da verde erva tenra e nova e com as cores vistosas de múltiplas flores, e à noite espalha pelo céu um fulgor alvinitente que torna as noites quase tão claras e luminosas como o dia.

Quem é ele? Um jovem, que a si mesmo se apresenta c descreve como um —sonhador“, que os conhecidos consideram como uma criatura estranha, bisonha, talvez até um tanto tola e ridícula, um rapaz que —mal conhece a vida real“ e que, no entanto, no mundo galopante da sua fantasia vê correr diante dos olhos as cenas e as figuras mais significativas na evolução histórica da humanidade, e que vive ainda, no seu delírio de visionário, um romântico sonho de amor em que a sua amada é uma formosa castelã casada com um velho, mas que afinal nem sequer conhece uma mulher, embora anseie a todo momento por conhecer uma jovem semelhante a essa que acabou agora de encontrar chorando, amparada ao parapeito do cais, numa dessas noites brancas de São Petersburgo. Por que chora essa mocinha? Quem será? Apesar de toda a timidez do —sonhador“ há um acaso que os faz aproximar, e os dois jovens começam então o seu diálogo apaixonado que vai estender-se por quatro dessas maravilhosas noites brancas. Ela é morena, como o —sonhador“ logo tinha imaginado, assim que a viu de longe; tem apenas dezessete anos, é inteligente, viva, ardente, e... está enamorada de outro. Ela veio nessa primeira noite para a beira do rio porque tinha combinado com o namorado esse encontro, após um ano de separação. Este não aparece, mas Nástienhka, durante a sua espera febril e ansiosa, tem a felicidade de encontrar esse espiritual, romântico, tímido e ardente —sonhador“ que a consola na sua dúvida, que acende constantemente diante dos seus olhos a chama da esperança e que acaba por se apaixonar por ela.

E, numa dessas noites, já na tempestade da decepção e do despeito, quando começa já a acreditar que aquele a quem ama a esqueceu, Nástienhka, sequiosa de amor, na ânsia de ter junto de si um ser sobre o qual derrame a sua impetuosa ternura, todo o fogo da sua alma apaixonada, acaba por prometer o seu coração ao pobre —sonhador“...

Mas eis que, finalmente, na última noite, surge o verdadeiro dono do coração de Nástienhka, e ela, num arrebatamento de paixão, deixa o companheiro daquelas quatro noites e lança-se nos braços daquele por quem esperava...

Podemos agora perguntar: como definir o caráter de Nástienhka, a mocinha que esperava pelo amado, mas que entretanto promete o seu amor ao primeiro que lhe aparece... para logo depois se esquecer dele e voltar outra vez para o mais antigo? Será ela uma leviana ou uma inconstante? Não. Não é propriamente um temperamento de mulher que Dostoiévski nos apresenta aqui, embora nos tenha admiravelmente descrito a alma de Nástienhka como uma alma apaixonada vibrante e impetuosa. Quer-nos antes parecer que, além da análise da —vida imaginativa e de sonho“, do protagonista, o genial escritor nos quis antes apresentar – e fê-lo de uma forma verdadeiramente artística, cheia de uma beleza delicada, grácil, leve e ao mesmo tempo perturbante – o fenômeno de —transposição“ que se operou na alma dessa mulher enamorada, pois o seu coração transbordante de um amor que esperava oferecer ao homem que aguardava e que entretanto não vinha, não se contém, tem necessidade de um objeto visível e sensível, de outro ser que lhe dê a ilusão de que o escutam, que seja como que um alvo concreto sobre o qual possa incidir a luz da sua ternura. O jovem —sonhador“ está ali: tem uns olhos que a vêem, uns ouvidos que a escutam, uma boca que lhe diz palavras de consolo e de amor, uma mão que recebe a sua, uma alma que sente e palpita junto dela. Todas as palavras que tinha para dizer ao outro, di-las a este... E por fim até o beijo, que havia de oferecer ao seu verdadeiro amado, vai ainda para esse companheiro daquelas noites.

Esta novela pertence ao ciclo das obras que podemos considerar inspiradas pela malograda paixão de Dostoiévski pela senhora Panáieva, aquela mulher bela e culta que recebia no seu salão as celebridades do mundo literário e artístico. A primeira dessas novelas foi A Dona da Casa; a segunda, Polzunkov; esta é a terceira; e finalmente na novela seguinte, em Niétotchka Niezvânova, há também uma carta de amor onde palpita ainda toda a vibração de um amor desvairado e impossível. Tanto em A Dona da Casa, como em Noites Brancas, os protagonistas apaixonam-se por mulheres que —já estão comprometidas“, que entregaram desde há muito o coração a outro... E, além disso, há também uma grande semelhança que assenta evidentemente sobre o fundo autobiográfico da novela, entre Ordínov,o estudante visionário, e este outro jovem —sonhador“ que conhece os tais recantos misteriosos de Petersburgo, dos quais —poderia dizer-se que nunca neles dá o sol que brilha para todos os petersburgueses, mas outro sol, novo, que foi criado unicamente só para eles e que dir-se-ia brilha ali também de maneira diferente, com um fulgor diferente daquele com que brilha no resto do mundo...“, e que, como já alguém disse e é de todo verossímil, mais não são do que esses antros onde se reúnem os conspiradores do grupo de Pietrachévski, uns exaltados que pretendiam derrubar com as suas doutrinas filosófico-literárias o trono de Nicolau, grupo ao qual pertencia Dostoiévski.

Esta novela é a última que o escritor escreve ainda em liberdade. Em breve será preso, e a sua próxima obra, Niétotchka Niezvânova, vai já ser escrita na cela duma fortaleza.

Clássico é clássico


Enquanto estava procurando conteúdo sobre Dostoiévski para o especial que estou preparando, me deparei com o artigo abaixo tratando sobre a leitura de textos clássicos. Gostei do texto e quis compartilhar com vocês, espero que também apreciem, mesmo que seja para refutá-lo.

Fonte: ebookcult
Texto original: Classicos

Clássico é clássico

Alta literatura mantém-se distante do grande público

apesar de especialistas defenderem a importância

de se conhecer as obras primas universais



Em 1991, os alunos dos cursos de letras clássicas e de civilização contemporânea oferecidos pela Columbia University, em Nova York, estranharam a presença de um aluno incomum. Tinha 48 anos, trabalhava como crítico de cinema da revista New York, era casado e pai de filhos. “Um homem sossegado na vida, mas que, mesmo assim, se sentia desassossegado de um jeito indefinido”, segundo ele. Seus colegas de classe, alguns com menos de 20 anos, achariam mais estranho ainda se soubessem que David Denby já havia feito aqueles dois cursos no inicio da década dos 60, quando era estudante da Columbia.


A primeira disciplina reunia “uma seleção-modelo de obras-primas da literatura européia”. A segunda fazia “uma seleção de obras-primas filosóficas ou de teorias sociais”.


Seguiam, em linhas gerais, os programas e as listas de leituras de trinta anos antes. “Ambos são cursos sobre ‘grandes livros’ ou, se você preferir, pesquisas sobre ‘civilização ocidental’ com uma série de grandes nomes colocados em ordem cronológica, como bustos de mármore num panteão de glória”, explica Denby. Em uma palavra: clássicos. Cânones. Mas o que teria levado alguém prestes a completar 50 anos a estudá-los de maneira sistemática?


Denby não queria apenas reler os “grandes livros”, mas também “saber como os outros estavam lendo – ou não estavam”. Durante o ano letivo, manteve sua rotina habitual. “O importante não era abdicar da minha vida, mas viver intensamente e ver como os livros se encaixavam nela”, explica. Fez, portanto, o que muitos outros adultos com sua formação se prometem fazer em algum momento de suas vidas – voltar às leituras “essenciais”. Suas motivações, bem como o relato daquele ano passado em companhia de velhos conhecidos, resultaram em Grandes Livros – Minhas Aventuras com Homero, Rousseau, Shakespeare, Marx e Outros Escritores Brilhantes (Record, 588 págs., R$ 55).

“A justificativa para exigir que todos fizessem esses cursos era bem clara: em qualquer área ou profissão, qualquer que fosse a glória ou o fracasso que o estudante de 18 anos iria enfrentar na vida, ele ou ela não podia desprezar essa arma”, observa Denby. “Eram aqueles os autores que formavam com mais força ‘o Ocidente’, eram aqueles os livros que falavam mais diretamente sobre o que um ser humano era ou podia ser. Deviam fazer parte da cultura de todos.”


É uma definição de clássico que se consagrou em círculos da chamada “alta cultura”, instalados sobretudo nos meios acadêmicos, e que abriga um juízo de valor: são livros que “devem” ser conhecidos de todos porque, supõe-se, carregam alguma espécie de conhecimento “obrigatório” para a compreensão da cultura ocidental ou, simplesmente, para a formação humanista de qualquer adulto.


Mas o raciocínio continuaria valendo no alvorecer da chamada era da informação, com o surgimento de gerações cujos hábitos de leitura se resumem apenas ao consumo de textos facilmente digeríveis, oferecidos em boa parte pela internet, essa infindável cadeia de fast-food do conhecimento?


Outros dois livros ajudam a iluminar alguns dos principais aspectos dessa questão: Por Que Ler os Clássicos, de Ítalo Calvino (Cia. das Letras, 280 págs., R$ 26,50), e Como e Por que Ler, de Harold Bloom (Objetiva, 276 págs., R$ 29,90). Calvino apresenta quatorze “propostas de definição” para os clássicos, mas, no final do artigo que batiza o livro, diz que deveria reescrevê-lo “para que não se pense que os clássicos devem ser lidos porque ‘servem’ para qualquer coisa. A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos”.
Seu livro reúne ensaios que revisitam alguns de seus autores preferidos, de Homero (séc. VIII ou IX a.C.) e Xenofonte (séc. V a.C.) a Ernest Hemingway (1899-1961) e Jorge Luis Borges (1899-1986), em busca do que mais lhe atraia neles.


Bloom, um dos mais respeitados (e polêmicos) críticos literários em atividade, é um pouco mais pretensioso. Suas análises de contos, poemas, romances e peças teatrais têm o objetivo de “ensinar a ler”. O próprio Calvino (1923-1985) figura entre os autores de obras examinadas por ele, ao lado de gente habitualmente perfilada em listas de
clássicos ocidentais – Shakespeare (1564-1616), Cervantes (1547-1616), Dostoiévski (1821-1881), Marcel Proust (1871-1922), Thomas Mann (1875-1955) – e de escritores de língua inglesa cujo reconhecimento fora dos países anglo-saxões é menor, como Emily Dickinson (1830-1886) e Flannery O’Connor (1925-1964).


O que une Bloom a Calvino, no entanto, é a negação de um caráter utilitarista para os clássicos e, em um sentido mais amplo, para a literatura. “O prazer da leitura é pessoal, não social”, diz. “Não se consegue melhorar – diretamente – as condições de vida de alguém apenas tornando-se um leitor mais competente. Sou cético com relação à expectativa tradicional de que o bem-estar social possa ser promovido a partir do aumento da capacidade de imaginação das pessoas, e desconfio de qualquer argumentação que associe o prazer da leitura solitária ao bem público.”


Um de seus “princípios” para o “resgate da leitura” é o de “não tentar melhorar o caráter do vizinho, nem da vizinhança, pelo que lemos ou de como o fazemos. O auto-aperfeiçoamento é projeto suficientemente grandioso para ocupar a mente e o espírito”.


“Lemos, intensamente, por várias razões, a maioria das quais conhecidas: porque, na vida real, não temos condições de ‘conhecer’ tantas pessoas, com tanta intimidade; porque precisamos nos conhecer melhor; porque necessitamos de conhecimento, não apenas de terceiros e de nós mesmos, mas das coisas da vida. Leia plenamente, não para acreditar, nem para concordar, tampouco para refutar, mas para buscar empatia com a natureza que escreve e lê”, propõe.

Esse discurso em torno dos clássicos teria a capacidade de convencer alguém a os ler? “Supondo que eles tenham importância, não creio ser possível convencer ninguém disso”, afirma o crítico literário Marcelo Pen, que escreve para a revista Carta Capital, entre outras publicações. “É tão impossível convencer alguém de que os clássicos têm valor quanto fazer um ateu convicto adotar de inopino uma religião. Não há argumentos lógicos nem nenhum blablablá de professor capaz de mudar isso”, acredita.


“Se o professor sugere que o aluno leia Dom Casmurro ou Sagarana, a maioria da classe vai execrar, ler um resumo ou pedir os pontos principais da análise para um colega. Um ou outro, porém, ficará fascinado. Por quê? Por que alguém se empolga com o caso de Capitu e passa a defender ou acusar Bentinho? Por que alguém tem calafrios na alma com o duelo de faroeste em que se envolve Augusto Matraga?” Pen desconfia que a resposta tenha algo a ver com o comportamento de nossos antepassados remotos que “se sentavam em uma praça, em torno da fogueira, sob a luz das estrelas, enquanto ouviam, entre maravilhados e aterrorizados, alguém desfiando histórias de deuses e monstros, heróis, morte e ressuscitamento”.


Há algo nessas narrativas, sustenta ele, que “nos empolga e que nos faz ser de novo arianos sentados na fronteira da Índia, gregos encarapitados em rochedos áridos sob o céu azul”. Se o leitor a quem se recomendou a leitura de um clássico não sentir isso, nada feito. “Ele não vai gostar de nenhum desses grandes livros, a despeito de todos os argumentos sobre como a leitura edifica o homem, como é indispensável para o nosso futuro, como separa o homem da besta-fera e o vencedor do perdedor. Sabemos que nada disso é verdade. Que livros leu grande parte de nossa elite, a parcela bem-sucedida da sociedade, ainda que isso diga mais a respeito de nossa elite do que dos livros não lidos?”


O escritor Marcelo Coelho, cronista da Folha de S. Paulo e autor de Jantando com Melvin (Imago, 168 págs., R$ 16) e Trivial Variado (Revan, 190 págs., R$ 22), também acha difícil convencer alguém a ler os clássicos. “Muitos exigem que o leitor mergulhe na leitura, o que só se faz quando se tira um mês de férias em lugar tranqüilo. Depois, se a pessoa vai achando chato, não há como”, diz. “Às vezes compensa. Dr. Fausto, de Thomas Mann, demora muito a engrenar. É bem chato, nesse sentido, mas vale a pena. Outras vezes, o livro impõe exigências – de vocabulário, de cultura geral, de atenção a sutilezas – que a pessoa não necessariamente está preparada para responder.”

Nessas situações, corre-se o risco de provocar um “trauma” no leitor, que passaria a ter uma espécie de “fobia” a clássicos. Coelho lembra que teve seu “trauma” com Os Irmãos Karamazov. Aos 15 anos, quando precisou ler o livro até o fim, achou-o “chatíssimo”. “Até hoje Dostoiévski – que admiro muito – é uma ‘pedreira’ para mim. Mas acho que, além de trauma, existe tabu. A gente simplesmente não tem coragem de ler os ‘grandões’ – Virgílio (70-19 a.C.), Dante (1265-1321), Goethe (1749-1832). Deixa para algum dia. Mas eu me lembro de há muito tempo ter tomado a decisão de, aos poucos, ir ‘enfrentando’ esses monstros. Dá pra ler, sim, e eles são muito melhores do que o simples nome deles sugere.”


Coelho observa que a literatura de consumo esgota-se nos efeitos que produz. “Uma vez lida, você se diverte, sabe quem é o assassino, dá risada e pronto, como uma piada que não tem interesse se já a conhecemos”, diz. “O clássico seria o oposto disso, aquele livro cujos efeitos não se esgotam nem na primeira, nem na segunda, nem na terceira leitura, e por isso sempre pode ser relido – o que é feito, aliás, pelas novas gerações.”


A professora Luciana Salgado, preparadora de textos do Projeto Editorial Cursinho da Poli e integrante do núcleo Confraria de Textos, propõe uma definição um pouco mais ampla. “Arriscaria dizer que clássico na literatura é o que uma comunidade cultural (o país, a classe socioeconômica, a área de atuação profissional) toma como referência, que conhece ou pelo menos menciona com certa naturalidade”, propõe.


“Vale, portanto, O Pequeno Príncipe, mesmo para quem nem tenha idéia de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). Não acho que haja ‘clássicos indiscutíveis’. Há um maravilhoso mar de histórias, há a inegável grandeza da experiência literária e há a irrevogável necessidade humana de pertencimento. A conjunção dessas coisas é que vai dando acenos do que de clássico há.”


Essa “conjunção” resvalaria inclusive no constrangimento social a que integrantes de certos grupos estariam submetidos por não conhecerem o que se supõe que devessem ter lido. “Acredito que se minta gostar disso ou daquilo porque é clássico. É a tal necessidade de pertencimento de que falava”, afirma Luciana. “Não condeno quem o faça. Talvez eu já o tenha feito, não sei. Os códigos intelectuais são tão coercitivos quanto quaisquer outros mecanismos civilizatórios e comunitários. Mas eu faria uma diferença entre os que mentem gostar do que não gostam e os que mentem gostar do que não conhecem. Acho ruim não conhecer. Acredito num aspecto positivo do constrangimento que possa levar a pessoa a querer saber, afinal, do que se trata. Às vezes, passa-se a gostar do que pareceu ruim num primeiro contato ou o inverso.”

Caberia primordialmente à escola a missão de propiciar o primeiro contato do estudante com os clássicos. Mas a leitura escolar compulsória, muitas vezes com base em listas de obras exigidas por vestibulares, pode contribuir para afastá-lo, em vez de aproximá-lo, além de reduzir o espectro de obras a conhecer. “Se a escola se pretende formadora de seres criativos, precisa dar a ler, contar por que é bom, mostrar quem leu, oferecer possibilidades e instigar comparações, o que depende de professores familiarizados com o processo, experimentados nesse exercício, com repertório farto não só de leituras canônicas, mas sobretudo de escolhas pessoais que engendram habilidades como o destemor da entrega a novos títulos e a escolhas distintas das que se tem por hábito supor evidentes”, observa Luciana. O que os exames vestibulares determinam, segundo ela, é só “um pedacinho de um pedaço daquilo que a escola pode passar anos fazendo”.


Há alguns anos, ela recomendou a alunos da terceira série do ensino médio a leitura, durante as férias de julho, de Brás, Bexiga e Barra Funda, de Antonio de Alcântara Machado (1901-1935), e Memorial do Convento, de José Saramago. “Achei que eles iam curtir o primeiro, rolar de rir etc., pois eram todos descendentes de italianos, e eu me preparei loucamente para o segundo, imaginando as mais diversas alegações para o abandono da leitura ou o repúdio a um livro com tantas dificuldades sintáticas e estéticas, além da sofisticação do conteúdo”, lembra. Surpresa: os alunos voltaram das férias “com uma paixão incrível pelo Memorial, quando Saramago nem estava na crista da onda, e cheios de má vontade com Alcântara, que acharam, a princípio, bobinho, fragmentado”.
Luciana sustenta que “temos de oferecer de tudo”. As “confrarias de leitores”, segundo ela, só podem existir porque “a leitura de Longe é um Lugar que não Existe, de Richard Bach, não impede a descida aos infernos de Dante”.


A professora Andréa Saad Hossne, autora de Bovarismo e Romance (Ateliê, 304 págs., R$ 25) e docente do departamento de teoria literária e literatura comparada no curso de letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, tem opinião semelhante. “A importância de se ler os clássicos é a mesma de se ler, eventualmente, títulos das listas dos mais vendidos: experimentar o fenômeno literário na sua maior abrangência possível, comparar, observar, formular o próprio juízo crítico, inclusive para ter condições de diferenciar o que corresponde puramente a um gosto pessoal, momentâneo, sujeito a ingerências que se distanciam da experiência estética, até a percepção do fascínio próprio de uma experiência estética que pode passar longe da preferência puramente pessoal, ditada pelo momento, pelo estado de espírito, ou seja lá o que for”, diz.


Na escola, Andréa recomenda ecletismo. “Se pudéssemos trabalhar com os nossos alunos tanto aquele romance infanto-juvenil que eles descobriram sozinhos, aquela história de Agatha Christie (1890-1976) que os fez ter vontade de ler ou o conto de Luís Fernando Veríssimo que viram adaptado para a TV, quanto Graciliano Ramos (1892-1953), estaríamos promovendo uma formação e não uma adesão a algo pronto”, acredita. Um equívoco básico que permeia o ensino da literatura em geral, segundo ela, é justamente o de “confundir a descoberta da leitura e de seu valor formativo, humano e estético, com a formação do critério de valor estético propriamente dito.”

Uma formação do gosto literário e do senso crítico que desconsidere as várias etapas da vida e as diferenças individuais só pode gerar mesmo problema, seja em que instância for”, analisa. “É preciso bom senso e não me parece bom senso dar José de Alencar para uma criança de 11 anos, como foi feito comigo e com toda a minha geração no fim dos anos 70. Mas daí a não se ler José de Alencar (1829-1877) nunca, de jeito nenhum, vai uma distância quase incalculável. Advogo o direito às pequenas indigestões, que advêm da curiosidade natural, da descoberta, da busca. Isso sim. Agora, aplicar um cardápio pronto sem considerar as especificidades etárias, no mínimo, é estupidez.”


O jornalista Adriano Schwartz, editor do caderno Mais!, da Folha de S. Paulo, também defende que, em relação a crianças e adolescentes, a preocupação deva ser a de que “a leitura aconteça, seja lá do que for, pois a tendência é que se vá, paulatinamente, se especializando, aprimorando seus critérios”. Além disso, ele acredita que existem “textos de Joseph Conrad (1857-1924), Herman Melville (1819-1891), Edgar Allan Poe (1809-1849), Machado de Assis (1839-1908), Franz Kafka (1883-1924) e Borges, por exemplo, dos quais seria muito difícil que alguém com um mínimo de boa vontade desgoste e, como esses, outros tantos”. Caberia ao educador, na avaliação de Schwartz, “limpar terreno, destruir bloqueios bobos e medos infundados, em suma, dar uma mãozinha para que o gosto do leitor se estabeleça com mais facilidade”.


No ano passado, Andréa Hossne participou da organização de um curso extracurricular, oferecido pelo seu departamento na USP, que “procurava resgatar em nossos alunos, a maioria professores do ensino médio, essa experiência de leitura, tão rica e decisiva, da ficção que está à margem do currículo escolar”.


“Surgiram, dos escombros de uma educação que tirou do ensino da literatura seu papel formativo, leitores argutos e confusos. Não sabemos como esse resgate vai operar na prática de ensino desse professor. Esperamos que seja algo positivo, que tanto reintegre a experiência da leitura espontânea, como motive para o conhecimento do imenso patrimônio das obras literárias já produzidas pela humanidade, algumas delas insistentemente acesas, e os leve, quem sabe, a perguntar por que algumas ficam acesas e outras se apagam como tênues chamas como o passar do tempo.”


A imagem tem a ver com sua definição de clássico, “movediça como a literatura em si mesma”. “Acredito que as obras clássicas sejam lâmpadas acesas, às vezes com maior ou menor vigor, mas o que faz com que sua circunferência se alastre pode ser das mais diversas ordens. Entretanto, a lâmpada permanece, até mesmo para ser violentamente atacada ou escondida.”


Aprendizado e prazer são as palavras-chave desse fenômeno, na opinião de Pedro Paulo de Sena Madureira, editor da Editora Siciliano, vice-presidente da Associação Brasil 500 Anos e conselheiro da Fundação Bienal.


“Clássico é aquele que se relê permanentemente, e não só aprendemos mais a cada leitura, como também temos mais prazer. É uma descoberta. Quanto mais ela for estimulada de forma aberta e democrática, melhor. É preciso oferecer coisas objetivas para que as pessoas façam as suas descobertas. Uma coisa é ler Padre Antonio Vieira (1608-1697) obrigado, e outra porque se acredita que será enriquecedor. Mas esse é um problema em todos os países. Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1821-1880), lido por jovens franceses, também é difícil. Eles lêem para passar de ano.”


De volta então a Ítalo Calvino, que cita um trecho do escritor Emile Cioran (1911-1995) para encerrar o seu ensaio sobre os clássicos: “Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. ‘Para que lhe servirá?’, perguntaram-lhe. ‘Para aprender esta ária antes de morrer’.”

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Homem Primata .... Capitalismo Selvagem


Quem já leu Crônica de uma Morte Anunciada conhece a sensação de dejavu e impotência que mais essa crise trás : vem teoria, vai teoria e as contradições acabam por gerar mais um colapso que fatalmente terá suas conseqüências nefastas socializadas, sem que o mesmo tenha ocorrido com suas benesses.

E antes que os touros que não podem ver algo vermelho tremam de fúria e indignação devo lembrar-lhes que não foi só o tio Marx que avisou sobre as conseqüências de deixar o capital livre leve e solto, Keynes e outros doutores do capitalismo também já se pronunciaram sobre ...


Digitalizado por: Compartilhando e criando informação

Links Le Monde:

  • 09/2007 - O eterno retorno da crise financeira - cbr - pdf
  • 03/2008 - De ventaval a furação - cbr - pdf
Links Carta Capital:
  • 22/08/2007 - A bolsa pede piedade - cbr - pdf
  • 22/08/2007 - É capitalismo, estúpido - cbr - pdf
  • 22/08/2007 - O rescaldo na periferia - cbr - pdf
  • 29/08/2007 - Prejuízos socializados - cbr - pdf
  • 23/01/2008 - Em areia movediça - cbr - pdf
  • 23/01/2008- Papai Estado nos salvará - cbr - pdf


Carta Capital e Le Monde estão fazendo uma cobertura muito boa, já digitalizei boa parte das reportagens, em breve disponibilizarei as restantes.

“Hegel, há dois séculos, deplorava a incapacidade crônica dos Estados de aprender com as experiências da história. Os governos não são os únicos poderes incapazes de aprender. O capital - notadamente o financeiro - também parece condenado à perseverança no erro, à aberração recorrente e ao eterno retorno da crise financeira. Apesar de relativa a novos objetos", a atual crise dos mercados de crédito permite entrever, uma vez mais, os ingredientes quimicamente puros do desastre, oferecendo a quem quiser ver uma ocasião a mais para meditar sobre as "benesses" da liberalização dos mercados de capitais.

É que a crença financeira não se dissipa com facilidade e, logo ela, que se vangloria de ser a encarnação do princípio de realidade, que submete as empresas tão-somente à "validação dos fatos", segundo os critérios do "reporting" (prestação de contas trimestral) e do "track record" ("histórico" de desempenho), continua asininamente ignorante disso que a história recente - sua própria história - lhe entrega de bandeja, embora de modo acachapante. É que, na verdade, o "track record" da liberalização financeira não goza de boa reputação... Não podemos nos esquecer de que, desde que ela passou a imperar, tem sido difícil passar mais de três anos seguidos sem um incidente de envergadura - quase todos poderiam figurar nos livros de história econômica: 1987, quebra memorável dos mercados de ações; 1990, quebra dos "junk bonds" ("títulos podres") e crise das "savings and loans" (financeiras de poupança e empréstimos) americanas; 1994, quebra dos titulares de debêntures americanos; 1997, primeira fase da crise financeira internacional (Tailândia, Coréia, Hong-kong); 1998, segunda fase (Rússia, Brasil); 2001-2003, estouro da bolha da Internet.


E aqui estamos nos em 2007. Leitura dos devotos: a globalização é auspiciosa, mas dolorosa ...”.. No Lê Monde, Pierre-Antoine Delhommais deleita-se com a resistência da besta diante de tantos choques de vulto, que nos fizeram questionar, em cada episódio, se não acabariam por matá-la - que, a cada vez, não só se reergue, como também volta a andar com ânimo renovado. O fato é que não devemos nos surpreender com ele. Ti­rando o fato de que o jornalista esquece o quanto custou aos assalariados, em cada uma daquelas ocasiões, pagar a conta da em­briaguez financeira. Pois, invariavelmente, a degringolada dos mercados atinge os bancos, portanto o crédito, em seguida os investimentos, o crescimento... e o emprego.

Seria necessário quem sabe a aquisição de seu jornal por um fundo de investimentos um pouco impiedoso para que, ao viver a experiência concreta do "downsizing" ("en­xugamento"), Delhommais se visse mais impelido a calcular o acúmulo de pontos de crescimento perdidos e de empregos des­truídos em função das práticas do mundo financeiro e (mais ainda) de suas crises - e que as "dores" da globalização lhe fossem pessoalmente penosas para que ele deixasse de considerá-la "auspiciosa".

A crise dos mercados de crédito que cas­tiga a economia americana oferece, porém, um panorama quase ideal dos encadea­mentos fatais da especulação desenfreada. Como em uma parada, desfilam novamen­te as toxinas gerais do mundo financeiro, sempre as mesmas e numa ordem absoluta­mente idêntica: 1) as tendências "Ponzi" da especulação; 2) o laxismo da avaliação de riscos na fase de alta do ciclo financeiro; 3) a vulnerabilidade estrutural a uma pequena mudança de ambiente e o efeito catalítico de um enfraquecimento local, que precipita a reviravolta; 4) a revisão imediata das esti­mativas; 5) o contágio lateral das dúvidas a outros setores do mercado; 6) o choque dos bancos excessivamente expostos; 7) a ameaça de um acidente sistêmico, ou seja, de um colapso global, seguido de recessão generalizada por estrangulamento do crédito... e um pedido de socorro aos bancos centrais feito por todos os fanáticos da livre iniciativa privada ...

Le Monde Diplomatique Brasil Setembro de 2007 – baixe a matéria completa, com a explicação de cada um desses sete fatores