segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Encarte CLACSO - Cadernos da América Latina - I



Encarte CLACSO
CADERNOS DA AMÉRICA LATINA - I

Este encarte é uma inciativa de responsabilidade do
Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais - CLACSO
e está sendo publicado bimestralmente pelo períodico "Le Monde Diplomatique Brasil"


Fonte:
Texto Integral retirado do perídico "Le Monde Diplomatique Brasil" - Ano 1/n4 Novembro de 2007
Digitalizado por: Compartilhando e Criando Informação

Links:
Encarte em formato pdf
Diretorio onde se encontra o encarte

Apresentação por Emir Sade*

Este primeiro caderno bimestral do pensamento crítico latino-americano, sob a coordenação do Clacso — Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais —, publicará artigos inteiros, ou parte significativa deles, de autores do nosso continente. Começamos por um de Ruy Maura Marini, simultaneamente à publicação do primeiro volume da coleção Clássicos do Pensamento Crítico Latino-Americano — Processos e tendências da globalização capitalista—, pela Prometeo Editorial, da Argentina. E com um texto de Agustín Cueva, coincidindo com o segundo livro da mencionada coleção — Entre a ira e a esperança. A coleção começará a ser publicada também no Brasil a partir do próximo ano.

Seguirão autores como Álvaro Garcia Linea, Pablo Gonzalez Casanova, Florestan Fernandes, René Zabaleta Mercado, Rodolfo Stavenhagen, Milton Santos, Silvio Frondizi, Gerard Pierre-Charles, Anibal Quijano, Juan Carlos Portantiero, Edelberto Torres-Rivas, entre outros.

Esperamos que, mais que fértil leitura, sirvam, tanto estes cadernos, como os livros da coleção, para alimentar discussões, debates, seminários, e que ajudem a recolocar o pensamento social latino-americano à altura das necessidades e dos desafios que se apresentam para o continente no novo século, cheio de alternativas novas para o presente e para o futuro.

Ruy Mauro Marini nasceu no Brasil, onde também cursou seus estudos, e desenvolveu grande parte de sua carreira académica no México e no Chile. Foi professor da Universidade de Brasília, da Universidade de Concepción, da Universidade do Chile e da Universidade Autónoma do México. Um dos fundadores da teoria da dependência — que inverteu a direção dos fluxos de pensamento sobre a América Latina —, e sua principal referência no campo marxista, o autor desenvolveu conceitos de extraordinária fecundidade para as ciências sociais, como os de superexploração do trabalho, subimperialismo, Estados de contra-insurgência e Estados de quarto poder.

Sua obra, marcada por grande continuidade, pode ser dividida em duas fases principais.

A primeira, nos anos 60 e 70, onde teoriza as grandes tendências reprodutivas do capitalismo dependente, seus limites políticos, as possibilidades e estratégias da onda nacional-popular e socialista que emerge dessas décadas e as ditaduras que se generalizam no Cone Sul para destruí-la.

A segunda, que se desenvolve nos anos 80 e 90, onde analisa a inserção do capitalismo dependente nos processos de globalização e a reconstrução do movimento popular e das alternativas socialistas. Para isso, toma como objeto de análise o neoliberalismo, as fraturas e recomposições que provoca no Estado latino-americano, os limites da redemocratização, a hegemonia neoliberal e os caminhos de uma renovação do projeto socialista capaz de oferecer uma democracia radical e substantiva que desmascare o simulacro neoliberal. Nessa perspectiva, propõe-se a um balanço crítico do pensamento social latino-americano, buscando prepará-lo para as novas tarefas da conjuntura contemporânea: a construção de uma ofensiva socialista, não apenas latino-americana, mas também mundial, capaz de redefinir as bases do sistema de poder no planeta. Essa tarefa, apenas iniciada por Ruy Mauro Marini, no México, entre 1994-1996, com a publicação de sete tomos sobre a Teoria Social Latinoamericana, está por se desenvolver e é a tarefa de todo socialista, militante da vida.

Para inaugurar este caderno bimestral, escolhemos um texto dessa segunda etapa, "Democracia e luta de classes" (1985), que editamos e cuja versão completa pode ser obtida no livro da coleção mencionada e em www.marini-escritos.unam.mx. Sua atualidade salta aos olhos para todos aqueles que desejam construir os caminhos do socialismo no século XXI.

Agustín Cueva nasceu em lbarra, no Equador, aí cursando ciências sociais, na Universidad Central, tornando-se professor e diretor da Escola de Sociologia de Quito. Foi também professor da Escola de Sociologia da Universidade de Concepción, no Chile, mudando-se depois para o México, onde lecionou na Faculdade de Ciências Políticas Sociais e no Centro de Estudos Latinoamericanos da Unam. Ele morreu em 1992.

Entre suas obras, destacam-se Entre a ira e a esperança — Estudos sobre a cultura nacional (1967), O processo de dominação política do Equador (1972), O desenvolvimento capitalista na América Latina (1972), Leituras e contribuições (1986), A teoria marxista (1987), As democracias restringidas na América Latina (1988), América Latina na fronteira dos anos 90 (1989) e Literatura e consciência histórica na América Latina (1993).

* Emir Sader: cientista político brasileiro, secretário executivo da CLACSO, coordenador e professor do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ, professor aposentada da USP e autor de dezenas de livros, entre os quais, Latino-americana: enciclopédia contemporânea da América Latina e Caribe (2006), projeto que coordena e redige em co-autoria com 121 escritores latino-americanos.

Fragmentos de Heráclito de Éfeso



"Purificam-se manchando-se com outro sangue, como se alguém, entrando na lama se lavasse. E louco pareceria, se algum homem o notasse agindo assim. E também a estas estátuas eles dirigem suas preces, como alguém que falasse a casas, de nada sabendo o que são deuses e heróis."
Heráclito de Efeso -
5, Aristócrito, Teosofia, 68; Orígenes, Contra Celso, VII, 62.

Fonte do livro digitalizado: http://www.consciencia.org/fragmentos_presocraticos.shtml

Fonte dos dados acerca do livro: Wikipedia - Heraclito de Efeso

Links:
Livro digitalizado em formato pdf

Diretorio onde se encontra o livro

Heráclito de Éfeso (datas aproximadas: 540 a.C. - 470 a.C. em Éfeso, na Jônia) foi um filósofo pré-socrático, recebeu o cognome de "pai da dialética". Problematiza a questão do devir (mudança). Recebeu a alcunha de "Obscuro", pois desprezava a plebe, recusou-se a participar da política (que era essencial aos gregos), e tinha também desprezo pelos poetas, filósofos e pela religião. Sua alcunha derivou-se principalmente devido ao livro (Sobre a Natureza) que escreveu com um estilo obscuro, próximo a sentenças oraculares.

Dados biográficos

Nascimento
c. 540/535 a.C. - c. 540/535 a.C. Éfeso, atual Turquia
Falecimento c. 475/470 a.C.
Nacionalidade Grego
Ocupação Filósofo
Principais interesses Metafísica, Ética, Epistemologia, Política
Idéias notáveis "Tudo flui", fogo como "physis", Logos
Influenciados Platão, Aristóteles, Nietzsche, Heidegger, Popper, Whitehead, Jung

Sobre a vida de Heráclito, Diógenes Laércio nos relata: “Heráclito, filho de Blóson, ou, segundo outra tradição, de Heronte, era natural de Éfeso. Tinha uns quarenta anos por ocasião da 69ª Olimpíada (504-501 aC). Era homem de sentimentos elevados, orgulhoso e cheio de desprezo pelos outros”.

Em outra passagem, o mesmo Diógenes nos conta: “Retirado no templo de Ártemis, divertia-se em jogar com as crianças e, acercando-se dele os efésios, perguntou-lhes:

De que vos admirais, perversos? Que é melhor: fazer isso ou administrar a República convosco?

E, por fim, tornado misantropo e retirando-se, vivia nas montanhas, alimentando-se de ervas e plantas.”
Usando sempre de hipocrisia, Heráclito ridicularizava o conhecimento dos médicos e dos físicos de sua época. Sobre as circunstâncias de como ocorreu a sua morte, Diógenes Laércio assim nos conta: “Hermipo, porém, conta que ele (Heráclito) perguntava aos médicos se alguém podia, esvaziando-lhe o ventre, expelir a água. Como negassem, deitou-se ao sol e pediu aos criados que o cobrissem com esterco. Assim deitado, faleceu no dia seguinte e foi sepultado na praça pública. Neantes de Cizico afirma que, tendo sido impossível retirá-lo de sob o esterco, lá permaneceu, e, irreconhecível pela putrefação, foi devorado pelos cães.carece de fontes

O pensamento de Heráclito

Os filósofos milesianos (Tales, Anaximandro, etc) haviam percebido o dinamismo das mudanças que ocorrem na physis, como o nascimento, o crescimento e o perecimento, mas não chegaram a problematizar a questão. Heráclito, inserido dentro do contexto pré-socrático, parte do princípio de que tudo é movimento, e que nada pode permanecer estático. "Panta rhei", sua "máxima", significa "tudo flui", "tudo se move", exceto o próprio movimento. Ele exemplifica, dizendo que não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, porque, ao entrarmos pela segunda vez, não serão as mesmas águas que estarão lá, e a pessoa mesma já será diferente (de fato, a Biologia veio a descobrir muito mais tarde que nossas células estão em constante renovação, e isso é uma mudança).

Mas tal questão é apenas um pressuposto de uma doutrina que vai mais além. O devir, a mudança que acontece em todas as coisas é sempre uma alternância entre contrários: coisas quentes esfriam, coisas frias esquentam, coisas úmidas secam, coisas secas umedecem, etc. A realidade acontece, então, não em uma das alternativas, que são apenas parte da realidade, e sim da mudança ou, como ele chama, na guerra entre os opostos. Esta guerra é a realidade, aquilo que podemos dizer que é. Mas essa guerra da qual fala Heráclito não tem essa conotação de violência ou algo semelhante. Tal guerra é que permite a harmonia e mesmo a paz, já que assim é possível que os contrários possam existir: "A doença faz da saúde algo agradável e bom", ou seja, se não houvesse a doença, não haveria porque valorizar-se a saúde, por exemplo. Ele ainda considera que, nessa harmonia, os opostos coincidem da mesma forma que o princípio e o fim, em um círculo, ou a descida e a subida, em um caminho (pois o mesmo caminho é de descida e de subida); o quente é o mesmo que o frio, pois o frio é o quente quando muda (ou, dito de outra forma: o quente é o frio depois de mudar, e o frio, o quente depois de mudar, como se ambos, quente e frio, fossem "versões" diferentes da mesma coisa).

Inserido no contexto pré-socrático, Heráclito definiu, partindo de seus pressupostos (o "panta rhei" e a guerra entre os contrários) uma arché, um princípio de todas as coisas: o fogo. Para ele, "todas as coisas são uma troca do fogo, e o fogo, uma troca de todas as coisas, assim como o ouro é uma troca de todas as mercadorias e todas as mercadorias são uma troca do ouro", ou seja, todas as coisas transformam-se em fogo, e o fogo transforma-se em todas as coisas. De seus escritos restaram poucos fragmentos, (encontrados em obras posteriores), os quais geraram grande número de obras explicativas.

A cosmologia de Heráclito

Segundo Heráclito, o fogo é o elemento primordial de todas as coisas. Tudo se origina por rarefação e tudo flui como um rio. O cosmos é um só e nasce do fogo e de novo é pelo fogo consumido, em períodos determinados, em ciclos que se repetem pela eternidade.
Em seu livro - Do Céu, Aristóteles escreve: “Concordam todos em que o mundo foi gerado; mas, uma vez gerado, alguns afirmam que é eterno e outros que é perecível, como qualquer outra coisa que por natureza se forma. Outros, ainda, que, destruindo-se, alternadamente é ora assim, ora de outro modo, como Empédocles e Heráclito de Éfeso. (...) Também Heráclito assevera que o universo ora se incendeia, ora de novo se compõe do fogo, segundo determinados períodos de tempo, na passagem em que diz – Acendendo-se em medidas e apagando-se em medidas.”

Para Heráclito, condensado o fogo se umidifica, e com mais consistência torna-se água, e esta, solidificando-se, transforma-se em terra e a partir daí, nascem todas as coisas do mundo. Este é o caminho que Heráclito define como sendo “para baixo”.
Derretendo-se a terra obtém-se água. Água transforma-se em vapor, tal como vemos na evaporação do mar. E rarefazendo-se o vapor transforma-se novamente em fogo. E este é o caminho “para cima”.
Nosso mundo é cercado pelos astros (Sol, Lua, e estrelas). Esses nada mais são do que barcos cujas concavidades estão voltadas para nós, e que carregam dentro de si chamas brilhantes. A mais brilhante é a chama do Sol e também a mais quente. Os demais astros distam mais da Terra e é por isso que seu brilho é menos vivo e menos quente, mas a Lua, que está bem próxima da Terra, não é por isso, mas por não se encontrar num espaço puro – a escuridão. O Sol, entretanto, está em região clara e pura.
Os eclipses do Sol e da Lua acontecem quando as concavidades dos barcos se voltam para cima. E as fases da Lua ocorrem quando o barco que a encerra se volta aos poucos em nossa direção.
Dia e noite, meses e estações, chuvas, ventos e demais fenômenos são conseqüências de diferentes evaporações. Pois a brilhante evaporação inflamando-se no círculo do Sol produz o dia, e quando a contrária prevalece produz a noite; e quando da evaporação brilhante nasce o calor faz verão, mas quando da sombra o úmido prevalece faz-se o inverno.

O Deus e a alma

Dentro do pensamento de Heráclito, Deus não tinha a aparência de um homem nem de outro animal qualquer. Deus não era nem criador, nem onipotente. Heráclito limitava-se a identificá-lo com os opostos, os quais persistem apesar de suas mudanças e assim são capazes de compreender sua própria unidade.
“O Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome; mas se alterna como o fogo, quando se mistura a incensos, e se denomina segundo o gosto de cada um.”
Nesse argumento, podemos ver que Heráclito considerava as diversas divindades da mitologia grega, que eram adoradas pelos homens de seu tempo, como sendo apenas fogo misturado a diferentes tipos de incensos.
E a alma consiste apenas de mais uma rarefação do fogo e sofre as mesmas mudanças que todas as outras coisas também experimentam; e a morte traz a completa extinção da alma.
“Para almas é morte tornar-se água, e para água é morte tornar-se terra, e de terra nasce água, e de água alma.”
Novamente aqui, nesse raciocínio, vemos Heráclito descrever seus caminhos “para baixo” e “para cima”.

Algumas considerações

Para que possam aproveitar melhor as leituras vou disponibilizar também as obras utilizadas ou citadas nos periódicos. Caso você possua alguma delas em formato digital e queira compartilhar conosco fico muito agradecido.

Também recebemos nosso primeiro apoio: o Plano B - HQ Independente fez o jabazinho nosso , e retribuímos a gentileza.

Aproveito para fazer duas indicações o Farra, o melhor forum de scans, possui um acervo gigantesco e o Vertigem o melhor blog de scans de quadrinhos adultos que conheço(boa parte do meu acervo vem de lá).

Abraços a todos