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Houve uma época em que Milagre exigia fé, e a fé exigia sangue e sacrifício dos ateus
Fonte: Extraído da "Coleção Caros Amigos - A ditadura militar no Brasil - A história em cima dos fatos" fascículo 7
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Introdução
Terror Estatal - Soltaram os dobermans
A escolha de Médici como sucessor de Costa e Silva mostrou que a linha dura havia dominado o governo. Em debate secreto no senado americano, ele logo recebe aprovação dos republicanos, mais à direita, e democratas - como Willians Fulbright, que “engoliu” a qualificação do diretor da CIA Richard Helms, de que o Brasil havia uma “ditadura consentida”. Médici recebeu aprovação também da OPS(Seção de Segurança Pública, na sigla em inglês). A OPS-Brasil “confiava” que Médici promoveria a “segurança interna”, pois até já havia nomeado, para Ministro da Justiça, um duro “no trato com elementos subversivos e criminosos”: Alfredo Buzaid.
Com tais costas quentes, o governo Médici vai cair matando em quem quer que ouse abrir a boca contra a ditadura, quanto mais quem exercer oposição armada. Instituirão como política de Estado a tortura, que espalha terror. Não hesitarão em aterrorizar crianças, estuprar mulheres. Um militar treinou seu cão para morder os testículos dos presos. Outro, o Risadinha, torturava dando risadas. Não houve baixeza humana que esquecessem. Um general que comandou o Dói-Codi do Rio, Adyr Fiúza de Castro, dirá sobre aquele tipo de gente, que ele próprio comandou:
“É tudo como cachorro bravo doberman. E o doberman tem-se que manter na trela, porque se o largar ele vai atacar até gente de casa”.
A sensação de quem viveu na época é de que não só havia dobermans à solta, mas também eram incitados a exercer seus instintos assassinos.
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No momento que a discussão sobre a correta interpretação sobre a Lei de Anistia ganha cada vez mais atenção, num momento que os golpistas do passado discursam no Clube Militar evocando teses estapafúrdias e/ou golpistas a leitura desse especial é extremamente oportuna, devemos estar preparados, sem sermos alarmistas, para as tentativas de dar luz a farsa.
Com vocês o Milagre do Médici ou Milagre de Fausto.
Fonte: Extraído da "Coleção Caros Amigos - A ditadura militar no Brasil - A história em cima dos fatos" fascículo 6
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Introdução
Milagre e Crueldade
Vimos até aqui como altas patentes militares e líderes civis de direita conspiraram para tomar o poder pela força desde o pós-guerra. Formados os militares golpistas em academias norte-americanas, alinhavam-se às teorias da Guerra Fria, basicamente duas: 1 - Mundo bipolar, ou seja, comunismo versus capitalismo, "cortina de ferro" ou "mundo livre", bloco socialista ou "civilização cristã ocidental", União Soviética ou Estados Unidos; 2 - existente em cada país um "inimigo interno": o comunista, o socialista ou toda pessoa que não reze pela cartilha de Washington.
Vimos como os golpistas estiveram perto do êxito em 1954, mas se viram frustados pelo supremo ato político do presidente Getúlio Vargas ao meter uma bala no próprio coração. Tinham acuado Vargas depois que seu arquiinimigo Carlos Lacerda sofreu um atentado, no qual havia indícios de participação da guarda do palácio presidencial.
Adiado o golpe, tentariam dá-lo em 1955, alegando que nas eleições presidenciais JK não havia obtido "maioria absoluta"; tentariam em 1961, quando Jânio renunciou e queriam impedir o vice, Jango, de tomar pose. E, depois de bem engendrada campanha, com ajuda dos meios de comunicação, dariam o golpe em 1964.
Vimos como os próprios generais vitoriosos reconheceram que não tinham um "projeto", moviam-se apenas pelo anticomunismo; e contra um presidente nada comunista - Jango, estanceiro rico, apenas tendia a adotar políticas sociais e nacionalistas. Mas, depois de um início atropelado, a ditadura militar, graças a várias circunstâncias, produziou um período de desenvolvimento conhecido como o milagre econômico, geralmente associado ao governo Médici, o mais cruel da ditadura militar.
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Cumprindo mais uma promessa eis o início da Longa Noite ....
E sempre que ouvir algum jornalão, emissora ou setores organizados da sociedade civil(leia-se igrejas) criticando ou denunciando a ditadura, lembre-se de quem foram os seus apoiadores ....
Fonte: Extraído da “Coleções Caros Amigos – A ditadura militar no Brasil – A historia em cima dos fatos” fascículo 1
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Introdução
Um Livro-Documento
Esta é a segunda coleção de fascículos Caros Amigos. A primeira foi Rebeldes Brasileiros - Homens e Mulheres que Desafiaram o Poder.
A proposta, tanto da primeira quanto desta segunda coleção, é mostrar episódios e personagens da história do Brasil a partir de nosso ponto de vista. Que difere substancialmente do encontrado em trabalhos semelhantes publicados pelas editoras grandes de revistas e jornais, mesmo porque elas defenderam e defendem a elite econômico-financeira que sempre dominou o poder e que não admite qualquer projeto de reforma institucional que possa ameaçar seus privilégios. Como aconteceu no episódio que vamos contar nesta série de fascículos, como aconteceu em episódios anteriores e como pode acontecer cada vez que um governo propuser mudanças estruturais ao país.
No caso, as editoras grandes apoiaram vigorosamente o golpe de Estado que inaugurou o longo período chamado "anos de chumbo", a ditadura militar que durou 21 anos, de
A presente coleção, dividida em doze fascículos que irão para as bancas e livrarias de quinze em quinze dias, descreve em detalhes as diversas fases daquele governo de exceção, a partir da noite de 31 de março de 1964 até a entrega da faixa presidencial a José Sarney, em 15 de março de 1985, após tumultuado processo que culminaria com a volta ao Estado de direito.
O leitor encontra na contracapa desta edição o Plano da Obra, isto é, o tema de cada um dos doze fascículos e a ordem em que serão publicados.
Por último, mas muito importante: juntamente com a edição número 6, será oferecida aos leitores, nas bancas e livrarias, gratuitamente, a capa dura para aqueles que desejarem encadernar os fascículos, formando um livro. Daí a numeração das páginas não recomeçar a cada edição, mas seguir da página l até a página 384. Um volumoso e, modéstia à parte, valioso documento.
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Autor: Michael Martin
Texto originalmente publicado em: ateus.net
Texto para aprofundar a leitura dos artigo "O ateísmo e seus fundamentos" e da matéria: "100 anos de SARTRE, o pensador do existencialismo ateu" presente na revista Discutindo Filosofia 1, disponível aqui no blog.
Ateísmo é a negação ou a falta da crença na existência de deus(es). O termo ateísmo vem do prefixo grego “a-”, significando “ausência”, e da palavra grega theos, significando “divindade”. A negação da existência de Deus é conhecida como ateísmo “ativo” ou “forte”; a simples descrença é denominada ateísmo “passivo” ou “fraco”. Apesar de o ateísmo ser freqüentemente visto como algo distinto do agnosticismo – visão segundo a qual não podemos saber se uma divindade existe ou não, mantendo uma posição neutra sobre o assunto –, ele é compatível com o ateísmo “passivo”.
O ateísmo possui uma vasta quantidade de implicações à condição humana. Com a ausência da crença num deus, as questões éticas devem ser determinadas em função dos objetivos e preocupações humanas, cabendo a nós assumir responsabilidade total pelo nosso destino. A morte, nessa visão, marca o fim da existência de um indivíduo.
Em 1994 estimava-se que havia aproximadamente 240 milhões de ateus no mundo – cerca de 4% do total –, incluindo aqueles que professam o ateísmo, o ceticismo, a descrença ou que opõem-se à religião. A porcentagem estimada aumentou significantemente, sendo atualmente algo em torno de 21% da população mundial (se ateus “passivos” forem incluídos).
O Escopo do Ateísmo
Em tempos antigos, pessoas utilizavam ocasionalmente a palavra “ateísmo” como uma ofensa às posições religiosas de seus opositores. Os primeiros cristãos eram chamados de ateus porque negavam a existência das divindades romanas. Ao longo do tempo muitos mal-entendidos surgiram: que os ateus são imorais, que a moralidade não pode ser justificada sem a crença em um deus, que a vida não tem sentido sem um criador. Apesar dessa visão ser bastante difundida, não há evidências de que ateus são menos morais que os teístas. Muitos sistemas morais foram criados sem pressupor a existência de um ser sobrenatural. O “sentido” da vida humana pode basear-se em objetivos terrenos, como melhoria da humanidade.
Na sociedade ocidental o termo ateísmo foi utilizado mais especificamente para designar a negação do teísmo, particularmente o judaico-cristão, que afirma a existência de um Deus pessoal todo-poderoso, todo-sabedoria e todo-bondade. Esse ser criou o Universo, preocupa-se ativamente com problemas humanos e guia sua criação através da revelação divina. O ateísmo “ativo” rejeita esse Deus e as crenças a ele associadas, como a na vida pós-morte, na predestinação, nas origens sobrenaturais do Universo, nas almas imortais, na revelação da natureza divina através da Bíblia e do Corão e na fundamentação religiosa da moral.
O teísmo, entretanto, não é um componente de todas as religiões. Algumas rejeitam o teísmo, mas não são inteiramente atéias. Apesar do Bhagavad-Gita – escritos sagrados do hinduísmo – ser totalmente fundamentado em tradições teísticas, escritos hindus mais antigos – conhecidos como os Upanishads – ensinam que o Brahman (a realidade última) é algo impessoal. O ateísmo “ativo” rejeita até os aspectos panteístas do hinduísmo, que igualam Deus ao Universo. Várias outras religiões orientais, incluindo o budismo theravada e o jainismo, são comumente vistas como crenças ateísticas, mas essa interpretação, a rigor, não é correta. Tais religiões rejeitam a idéia de um Deus criador do Universo como defendido pelo teísmo, mas admitem numerosos outros deuses inferiores. Na melhor das hipóteses, só podem ser consideradas “ateísticas” no sentido de que não aceitam o teísmo.
História
No mundo intelectual do Ocidente o fenômeno da difusão da descrença em Deus possui uma longa e distinta história. Filósofos da antiguidade, como Lucrécio, eram descrentes. Mesmo na Idade Média (do V ao XV século) havia correntes de pensamento que questionavam as assunções teístas, incluindo o ceticismo – doutrina que alega a impossibilidade de se alcançar o “verdadeiro conhecimento” – e o naturalismo – crença de que apenas forças naturais governam o mundo. Vários pensadores iluministas (1700-1789) eram ateus militantes, incluindo o escritor dinamarquês Baron Holbach e o enciclopedista francês Denis Diderot. Expressões de descrença são também encontradas em clássicos da literatura ocidental, incluindo os escritos de poetas ingleses como Percy Shelley e Lord Byron; do novelista inglês Thomas Hardy; de filósofos franceses como Voltaire e Jean-Paul Sartre; do autor russo Ivan Turgenev e de escritores americanos como Mark Twain e Upton Sinclair. Os ateus e críticos de religião mais articulados e conhecidos do século XIX são os filósofos alemães Ludwig Feuerbach, Karl Marx, Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche. O filósofo britânico Bertrand Russel, o psicanalista austríaco Sigmund Freud e Sartre estão entre os ateus mais influentes do século XX.
Motivos para Rejeitar Deus
Críticas ao Teísmo
Ateus justificam suas posições filosóficas de várias maneiras. Ateus “passivos” tentam fundamentar sua posição através da refutação dos argumentos em favor da existência de Deus, como o ontológico, o da causa primeira, o do design inteligente e o da experiência religiosa. Outros argumentam que qualquer afirmação sobre Deus é vazia, pois atributos como “onisciência” e “onipotência” são incompreensíveis à mente humana. Os que professam o ateísmo “ativo”, em contrapartida, defendem sua posição argumentando que o conceito de Deus é inconsistente. Eles questionam, por exemplo, como um Deus “todo-sabedoria” pode ser ao mesmo tempo “todo-bondade” e como um Deus que não possui corpo físico pode ser “onisciente”.
O Problema do Mal
Alguns ateus “ativos” adotam a posição de que a existência do mal torna Deus algo improvável. Em particular, ateus afirmam que o teísmo não explica adequadamente o porquê da existência de um mal aparentemente sem sentido, como o sofrimento de uma criança inocente. Teístas comumente defendem a existência do mal argumentando que Deus deseja que os humanos possuam liberdade de escolha entre o bem e o mal, ou que a função do mal é construir o caráter humano, lhes proporcionando qualidades como a perseverança. Ateus “ativos” contra-argumentam que as justificativas para o mal dadas pelos teístas em termos de livre-arbítrio deixam de explicar por que, por exemplo, uma criança possui doenças genéticas ou sofre violências e abusos de adultos. Os argumentos de que Deus permite a dor e o sofrimento para construir o caráter humano falham, por sua vez, em explicar por que havia sofrimento entre os animais existentes antes que os humanos evoluíssem e por que o caráter não pode ser desenvolvido com menos sofrimento. Para ateus, uma melhor explicação para a presença do mal no mundo é a inexistência de Deus.
Evidências Históricas
Ateus também criticaram evidências históricas utilizadas para sustentar as crenças das maiores religiões teísticas. Por exemplo, argumentaram que a falta de evidências lança dúvidas sobre importantes doutrinas do cristianismo, como a de que Jesus Cristo nasceu de uma virgem e a de que ressuscitou após ter sido crucificado. Devido a tais eventos representarem milagres, os ateus dizem que evidências extremamente fortes são necessárias para sustentar sua veracidade. As evidências disponíveis para respaldar os supostos milagres – de fontes bíblicas, pagãs e judaicas –, segundo os ateus, são fracas, e por isso devem ser rejeitadas.
A Diversidade no Ateísmo
Ateísmo é, primariamente, uma “reação à” ou uma “rejeição da” crença religiosa, e portanto não é possível determinar quaisquer outros pontos de vista filosóficos a partir dele. O ateísmo, às vezes, é associado às correntes filosóficas materialistas, as quais defendem que apenas a matéria existe; com o comunismo, o qual afirma que a religião impede o progresso da humanidade; e com o racionalismo, que coloca a razão acima de outros métodos de investigação. Entretanto, não há qualquer conexão necessária entre o ateísmo e tais posições filosóficas. Alguns ateus opuseram-se ao comunismo, outros rejeitaram o materialismo. Apesar de praticamente todos os materialistas contemporâneos serem ateus, Epicuro – um materialista grego da Antigüidade – acreditava que os deuses eram feitos de matéria na forma de átomos. Racionalistas como o filósofo francês René Descartes acreditavam em Deus, enquanto Sartre não pode ser considerado um racionalista. O ateísmo foi associado a sistemas de pensamento que rejeitam autoridades, como o anarquismo – teoria política que se opõe a qualquer tipo de governo – e o existencialismo – movimento filosófico que enfatiza absoluta liberdade de escolha que os humanos possuem; também não há, contudo, qualquer relação necessária entre tais posições e o ateísmo. O filósofo britânico A. J. Ayer era um ateu que se opunha ao existencialismo; o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, por sua vez, era um existencialista que aceitava Deus. Marx era um ateu que rejeitava o anarquismo, enquanto que o novelista Leo Tolstoy, um cristão, adotava o anarquismo. Devido ao ateísmo, estritamente falando, consistir meramente numa negação, ele não pode, por si próprio, proporcionar uma cosmovisão ao indivíduo; logo, é impossível deduzir quais outras concepções filosóficas serão adotadas.
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Fiodor Mikhailovich Dostoievski foi uma das maiores personalidades da literatura russa, tido como fundador do Realismo.
Sua mãe morreu quando ele era ainda muito jovem e seu pai, o médico Mikhail Dostoievski, foi assassinato pelos próprios colonos de sua propriedade rural em Daravoi, que o julgavam autoritário. Esse fato exerceu enorme influência sobre o futuro do jovem Dostoiévski e motivou o polêmico artigo de Freud: "Dostoiévski e o Parricídio".
Em São Petersburgo, Dostoiévski estudou engenharia numa escola militar e se entregou à leitura dos grandes escritores de sua época. Epilético, teve sua primeira crise depois de saber que seu pai fora assassinado. Sua primeira produção literária, aos 23 anos, foi uma tradução de Balzac ("Eugénie Grandet"). No ano seguinte escreveu seu primeiro romance, "Pobre Gente", que foi bem recebido pelo público e pela crítica.
Em 1849 foi preso por participar de reuniões subversivas na casa de um revolucionário, e condenado à morte. No último momento, teve a pena comutada por Nicolau 1
Suas crises sistemáticas de epilepsia, que ele atribuía a "uma experiência com Deus", tiveram papel importante em suas crenças. Inspirado pelo cristianismo evangélico, passou a pregar a solidariedade como principal valor da cultura eslava. Em 1857 casou-se com Maria Dmitrievna Issaiev, uma viúva difícil e caprichosa. Dois anos depois retornou a Petersburgo. Em 1862 conheceu Polina Suslova, que viria a ser o seu romance mais profundo. Em 1864, viúvo de Maria, terminou seu caso com Polina e em 1867 casou-se com Anna Snitkina.
Entre suas obras destacam-se: "Crime e Castigo", "O Idiota", "O Jogador", "Os Demônios", "O Eterno Marido" e "Os Irmãos Karamazov".
Publicou também contos e novelas. Criou duas revistas literárias e ainda colaborou nos principais órgãos da imprensa Russa.
Seu reconhecimento definitivo como escritor universal surgiu somente depois dos anos 1860, com a publicação dos grandes romances: "O Idiota" e "Crime e Castigo". Seu último romance, "Os Irmãos Karamazov", é considerado por Freud como o maior romance já escrito.
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Sem dúvida um dos melhores, senão o melhor, romances que eu já tive o prazer de ler. Num dos trechos do livro Ivan questiona o porquê de deus permitir o sofrimento de uma criança(que ele, assim como eu, acredita ser inocente), ao ler tal trecho me senti "roubado", era como se Dostoiévski tivesse lido minha mente e colocado meus pensamentos na boca do Ivan ...
O mistério da existência
por Tiago Ferreira
Este foi o último grande romance de Dostoiévski (1879-1880), terminado pouco tempo antes da sua morte, em São Petersburgo (1881). Faz parte das sua obras maiores, juntamente com Crime e Castigo (1886), O Idiota (1868) e Os Possessos (1871-1872), todas elas escritas na fase final da vida, sem dúvida mais produtiva.
Radicalismos da boemia, impulsão dos sentimentos individuais, infortúnio dos pensamentos sociais, repúdio aos excessos moralistas da humanidade. Podem parecer retratações perturbadoras e conflitantes na mente de um único ser. Mas se quer encontrar todas essas indagações existencialistas e as contradições psicológicas que permeiam o cérebro humano, basta pegar em mãos o livro Os Irmãos Karamazov, complexo romance de Fiódor Dostoiévski.
Publicado dois anos antes da sua morte (1879), Os Irmãos Karamazov tem sua narrativa centralizada no ato do parricídio. Ação é conseqüência do pensamento. E, mesmo negando a acepção de psicólogo que muitos leitores e apreciadores de sua obra denominam, Dostoiévski traça um perfil minucioso, sem ser muito intricado, de cada personagem que faz parte do romance.
Fiódor Pávlovitch Karamazov é um velho sedutor e estúpido que não segue regras morais e só pensa na satisfação de seus desejos individuais. É pai de três filhos, dos quais nem dava atenção, chegando a cair no esquecimento da existência deles no período de suas infâncias.
Ivã Karamazov, filho mais velho, é o mais inteligente e questionador, porém ao mesmo tempo negligente e amoral. Tanto que é autor de ‘O Grande Inquisidor’, artigo que contesta a ideologia moralista e rompe as barreiras psicológicas da ‘normalidade’, indagando a inexistência de um ser superior. ‘Se Deus não existe, tudo é permitido’ é a finalidade de seu pensamento. Argumento que Smierdiákov toma como ponto de partida para cometer o assassínio de Fiódor Pavlovitch, que não o reconhecera como pai.
Aliéksiei Fiódorovitch Karamazov e Dmítri Karamazov são os outros dois filhos do velho boêmio. Aliéksiei, tratado como Aliócha no romance, é o mais novo e viveu grande parte de sua vida em um mosteiro, tendo como mentor um ancião moribundo e religioso. Aliócha é o personagem ‘heróico’, como alega Dostoiévski no prefácio de seu livro; apóia os irmãos, ajuda quem precisa e crê no divino. Apesar de grande fé, não contraria o niilismo de Ivã e acredita na inocência de Dmítri, culpado de assassinar o pai por disputarem o amor de Grúchenchka, que brincava com o sentimento de ambos.
A discussão do romance vai da existência individual no mundo à crítica ao pensamento hegemônico da sociedade. Cada personagem possui divergentes temperamentos e interesses, sem deixar de terem o tratamento dostoievskiano – entenda-se dramas mentais, capacidade analítica de interpretarem o cotidiano às suas maneiras, sutil perspicácia e vítimas de uma moral dominante.
Dostoiévski dá bastante importância às realidades dos irmãos Ivã, Dmítri e Aliócha a ponto de separar exclusivos capítulos retratando fatos que os permeiam, a influência de determinadas personagens e pensamentos em suas vidas e o temperamento situacional de cada um. Dmítri é impulsivo e violento. Aliócha, têmpero e complacente. Já Ivã, cético e imparcial.
No momento da morte de Fiódor Pávlovitch, Dostoiévski traça minuciosamente a chegada de seu filho Dmítri à sua casa, desenvolvendo o longo da romance até o fato transparecendo a teoria de sua culpabilidade no crime, mas sem deixar comprometedores vestígios de quem realmente foi o assassino. O escritor brinca com a narrativa, mesclando distúrbios interiores do ser humano com uma cronologia similar aos romances policiais, onde permanece o mistério do assassinato.
A complexidade de Os Irmãos Karamazov não está no grande número de acontecimentos sucessivos, mas na perspectiva ideológica de cada personagem, como encaram a realidade em que vivem e o sincretismo egocêntrico individual, que mistura a homogênea ideologia do público com a heterogeneidade particular.
O resultado dessa vasta síntese é uma estória atrativa que desloca uma linear corrente de pensamento, suscitando uma inevitável redargüição da família e religião, moral e ética, crime e punição, sendo contemporâneo sem deixar de ser clássico. Os Irmãos Karamazov, realista do começo ao fim, é uma obra tão ampla quanto a nossa existência. Não é a toa que é tido pelo gênio da psicanálise Sigmound Freud como “a maior obra de todos os tempos”.
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Como aprendi a gostar de Dostoiévski - 2/5/06
por Ricardo Gondim
Falaram-me bem do romancista russo Fiódor M. Dostoiévski, e eu, curioso, comprei Os irmãos Karamázov. A princípio, não acostumado aos nomes dos personagens, não gostei da narrativa. Mas logo, deliciei-me com Dostoiévski e, hoje, o considero um dos maiores escritores de todos os tempos.
Ivan, o personagem agnóstico da família Karamázov, era um grande inimigo do cristianismo. Para enriquecer seus argumentos e contestar seu irmão Aliócha, um crente genuíno, ele criou a historieta do Grande Inquisidor. Ivan imaginou Cristo voltando à terra pela segunda vez em Madri, durante a Inquisição.
Enquanto Jesus operava milagres curando e ressuscitando mortos, o cardeal da cidade, o Grande Inquisidor, reconheceu o Senhor e o prendeu. Na penitenciária, questionou Cristo para saber por que ele voltara. O diálogo tornou-se tenso e cheio de revolta: "És Tu, és Tu?". Não recebendo resposta, acrescentou rapidamente: "Não digas nada, cala-te. Aliás, que mais poderias dizer? Sei demais. Não tens o direito de acrescentar uma palavra mais ao que já disseste outrora. Por que vieste estorvar-nos?".
O sacerdote extravasou sua ira porque Cristo havia proposto uma liberdade diferente da pregada pela igreja. Raivoso, alegou que "foram necessários quinze séculos de rude labor" para restaurar o estrago feito por Jesus e devolver aos homens o que ele considerava a verdadeira liberdade. Diante de Cristo manietado, continuou mostrando que a religião possuía uma liberdade maior que a de Jesus: "Fica sabendo que jamais os homens se acreditaram tão livres como agora, e, no entanto, eles depositaram a liberdade humildemente a nossos pés". O Grande Inquisidor, a seguir, passou a ensinar para Jesus que seu maior erro foi acreditar que os seres humanos valorizam o livre-arbítrio. A igreja teria corrigido essa falha. Tanto ele como seus colegas de sacerdócio vinham se esforçando por suprimir a liberdade proposta por Jesus com o propósito de tornar os homens mais felizes.
O Grande Inquisidor acusou Cristo de haver fracassado na tentação do deserto. Ele só recusara a proposta do Diabo de transformar pedras em pão (Mt 4.1-11) para não privar a humanidade de experimentar verdadeira liberdade. Caso ele operasse o milagre, os homens teriam obrigação de se tornarem seus discípulos, pois a sobrevivência humana dependeria de futuras intervenções divinas. Jesus achava que estaria comprando a lealdade de seus seguidores a preço de pão. E a acusação do Inquisidor concentrou-se em mostrar a inutilidade dessa opção do Senhor, pois as pessoas não querem viver livres.
O Grande Inquisidor usa do mesmo argumento quando afirma que Cristo errara ao abdicar à prerrogativa de pedir que Deus o livrasse fazendo-o aterrissar suavemente caso se jogasse do pináculo do templo. Segundo o algoz sacerdote, era vão querer discípulos por amor. As pessoas desejam seguir a Deus em troca de milagres e maravilhas. Elas negociariam a liberdade pela segurança de um mundo previsível, sempre controlado pela constante intromissão de Deus.
O religioso ainda declara que Cristo cometera um monumental deslize ao recusar a oferta do Diabo de conquistar os reinos do mundo. Bastava que ele o adorasse por um instante e não haveria mais guerras, fomes ou injustiças no planeta. Os reinos pertenceriam a ele e a ordem estaria segura.
Ao ler Dostoiévski percebo tanto a universalidade como contemporaneidade de seu pensamento. A religião anda na contramão do ensino de Jesus quando promete um mundo sem percalços e sempre previsível. Quando Os irmãos Karamázov foi escrito, essa teologia utilitária, que promete dourar a pílula da vida, ainda não se difundira tanto, mas foi amplamente denunciada. Jesus não quer ser amado pelo que dá, mas por quem ele é.
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Texto de: Beatriz Bajo
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Normalmente, o Armadilha Poética privilegia os novos autores, escritores contemporâneos ou aqueles que não estão freqüentemente nas primeiras prateleiras de bibliotecas e livrarias. Todavia, não resisti e precisei deixar registrada minha perplexidade em relação à leitura de um dos melhores romances que li. Evidentemente que muitos já devem ter usufruído esta maravilha de livro que mantém como original o título “Prestuplenie I Nakazanie”, escrito por nada menos que o russo Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski.
Aqui em casa, houve um surto. Meu pai leu e ficou chocado. Enquanto ele devorava o segundo volume, minha mãe viu-se tentada a descobrir o motivo de tanta euforia. E eu, na minha corrida contra o que me aparta de conhecer todos os clássicos e contemporâneos e quaisquer outros títulos dos milhares de livros que gostaria de apreciar, debrucei-me sobre a trajetória de Rodion Românovitch Raskólnikov, quem protagoniza toda a trama.
O enredo gira em torno de Raskólnikov, um estudante que vive em São Petersburgo e enfrenta grandes dificuldades financeiras. Arriscando-se, inicialmente, como professor de línguas, Rodion é um jovem, como muitos, que possui grandes ideais, no entanto, não consegue encontrar meios para viabilizá-los.
Tal personagem arquiteta uma teoria que dicotomiza homens ordinários e homens extraordinários. Entre estes, estão, por exemplo, Napoleão e César. Tomado pela consternação de sua vida sem perspectiva, o estudante pratica um crime (planeja o assassinato de uma agiota), acreditando que a senhora é uma pessoa má, um “piolho”; conseqüentemente, ele estaria fazendo um favor à sociedade. Assim como os grandes homens da história, que foram assassinos absolvidos.
No entanto, sua teoria furou na medida em que ele se deu conta de que não era extraordinário, porque carregou o peso de uma culpa que reluta em não sentir, entrando num labirinto de amarguras que convivem com as angústias do delito e seus delírios e fracassos.
Dostoiévski conduz a trama com tanta precisão, que me senti, diversas vezes, admirando um quadro, porque há uma riqueza de imagens tamanha que posso ver os filhos de Marmieládov na cena em que este chega a casa e sua mulher o arrasta pelos cabelos, pela casa inteira, quando percebe que todo o ordenado foi gasto, novamente, com bebida:
A garota que dormia acordou e começou a chorar. O rapazinho que estava no canto não pôde conter-se e começou a tremer e a gritar, e cingiu-se contra a irmã, apavorado, como se estivesse quase para sofrer um ataque. A irmãzinha mais velha tremia, colada à parede, como a folha duma árvore (p.35).
Este e diversos outros acontecimentos inesperados que passeiam pelas ruas de São Petersburgo, entre becos e tabernas e diálogos instigantes, tudo recheado com discussões acerca do existencialismo, do niilismo, da fé e da manutenção da dignidade que se sobrepõe à vileza da alma humana. Vale a pena ressaltar a nota do tradutor sobre o nome Raskólhnikov:
Nome forjado de raskol, cisão. É evidente o propósito simbolista do autor. Criando este nome, quer mostrar, através da significação do étimo, o homem cindido, atormentado pela contradição, entre as exigências que ele faz à vida, à humanidade e a si mesmo, e a capacidade para realizá-las. (p.13).
Enfim, publicado em 1866, quase 20 anos após a prisão de Dostoievski por conta de reuniões subversivas que conspiravam o assassinato de Nicolau I, Czar da Rússia. Apesar de livrar-se da condenação à morte, o autor vivenciou a prisão e a pobreza em meio à epilepsia, perturbações psicológicas e crises religiosas que reverberaram no ânimo de Raskól.
Com mais de um século de existência, o livro permanece impressionando pela magnífica capacidade descritiva e narrativa das contradições humanas: “Quiseram falar, mas não lhes foi possível. Havia lágrimas nos seus olhos. Estavam ambos pálidos e abatidos...” (p.310) assim também eu estava quando finalizava as últimas páginas dessa experiência que me rendeu alguns pesadelos durante as madrugadas e uns escritos.
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Nesta lindíssima novela os protagonistas encontram-se durante quatro noites à beira do Fontanka – somente durante quatro noites da primavera petersburguesa, que de dia alegra a cidade e os campos em redor com o brilho da verde erva tenra e nova e com as cores vistosas de múltiplas flores, e à noite espalha pelo céu um fulgor alvinitente que torna as noites quase tão claras e luminosas como o dia.
Quem é ele? Um jovem, que a si mesmo se apresenta c descreve como um —sonhador“, que os conhecidos consideram como uma criatura estranha, bisonha, talvez até um tanto tola e ridícula, um rapaz que —mal conhece a vida real“ e que, no entanto, no mundo galopante da sua fantasia vê correr diante dos olhos as cenas e as figuras mais significativas na evolução histórica da humanidade, e que vive ainda, no seu delírio de visionário, um romântico sonho de amor em que a sua amada é uma formosa castelã casada com um velho, mas que afinal nem sequer conhece uma mulher, embora anseie a todo momento por conhecer uma jovem semelhante a essa que acabou agora de encontrar chorando, amparada ao parapeito do cais, numa dessas noites brancas de São Petersburgo. Por que chora essa mocinha? Quem será? Apesar de toda a timidez do —sonhador“ há um acaso que os faz aproximar, e os dois jovens começam então o seu diálogo apaixonado que vai estender-se por quatro dessas maravilhosas noites brancas. Ela é morena, como o —sonhador“ logo tinha imaginado, assim que a viu de longe; tem apenas dezessete anos, é inteligente, viva, ardente, e... está enamorada de outro. Ela veio nessa primeira noite para a beira do rio porque tinha combinado com o namorado esse encontro, após um ano de separação. Este não aparece, mas Nástienhka, durante a sua espera febril e ansiosa, tem a felicidade de encontrar esse espiritual, romântico, tímido e ardente —sonhador“ que a consola na sua dúvida, que acende constantemente diante dos seus olhos a chama da esperança e que acaba por se apaixonar por ela.
E, numa dessas noites, já na tempestade da decepção e do despeito, quando começa já a acreditar que aquele a quem ama a esqueceu, Nástienhka, sequiosa de amor, na ânsia de ter junto de si um ser sobre o qual derrame a sua impetuosa ternura, todo o fogo da sua alma apaixonada, acaba por prometer o seu coração ao pobre —sonhador“...
Mas eis que, finalmente, na última noite, surge o verdadeiro dono do coração de Nástienhka, e ela, num arrebatamento de paixão, deixa o companheiro daquelas quatro noites e lança-se nos braços daquele por quem esperava...
Podemos agora perguntar: como definir o caráter de Nástienhka, a mocinha que esperava pelo amado, mas que entretanto promete o seu amor ao primeiro que lhe aparece... para logo depois se esquecer dele e voltar outra vez para o mais antigo? Será ela uma leviana ou uma inconstante? Não. Não é propriamente um temperamento de mulher que Dostoiévski nos apresenta aqui, embora nos tenha admiravelmente descrito a alma de Nástienhka como uma alma apaixonada vibrante e impetuosa. Quer-nos antes parecer que, além da análise da —vida imaginativa e de sonho“, do protagonista, o genial escritor nos quis antes apresentar – e fê-lo de uma forma verdadeiramente artística, cheia de uma beleza delicada, grácil, leve e ao mesmo tempo perturbante – o fenômeno de —transposição“ que se operou na alma dessa mulher enamorada, pois o seu coração transbordante de um amor que esperava oferecer ao homem que aguardava e que entretanto não vinha, não se contém, tem necessidade de um objeto visível e sensível, de outro ser que lhe dê a ilusão de que o escutam, que seja como que um alvo concreto sobre o qual possa incidir a luz da sua ternura. O jovem —sonhador“ está ali: tem uns olhos que a vêem, uns ouvidos que a escutam, uma boca que lhe diz palavras de consolo e de amor, uma mão que recebe a sua, uma alma que sente e palpita junto dela. Todas as palavras que tinha para dizer ao outro, di-las a este... E por fim até o beijo, que havia de oferecer ao seu verdadeiro amado, vai ainda para esse companheiro daquelas noites.
Esta novela pertence ao ciclo das obras que podemos considerar inspiradas pela malograda paixão de Dostoiévski pela senhora Panáieva, aquela mulher bela e culta que recebia no seu salão as celebridades do mundo literário e artístico. A primeira dessas novelas foi A Dona da Casa; a segunda, Polzunkov; esta é a terceira; e finalmente na novela seguinte, em Niétotchka Niezvânova, há também uma carta de amor onde palpita ainda toda a vibração de um amor desvairado e impossível. Tanto em A Dona da Casa, como em Noites Brancas, os protagonistas apaixonam-se por mulheres que —já estão comprometidas“, que entregaram desde há muito o coração a outro... E, além disso, há também uma grande semelhança que assenta evidentemente sobre o fundo autobiográfico da novela, entre Ordínov,o estudante visionário, e este outro jovem —sonhador“ que conhece os tais recantos misteriosos de Petersburgo, dos quais —poderia dizer-se que nunca neles dá o sol que brilha para todos os petersburgueses, mas outro sol, novo, que foi criado unicamente só para eles e que dir-se-ia brilha ali também de maneira diferente, com um fulgor diferente daquele com que brilha no resto do mundo...“, e que, como já alguém disse e é de todo verossímil, mais não são do que esses antros onde se reúnem os conspiradores do grupo de Pietrachévski, uns exaltados que pretendiam derrubar com as suas doutrinas filosófico-literárias o trono de Nicolau, grupo ao qual pertencia Dostoiévski.
Esta novela é a última que o escritor escreve ainda em liberdade. Em breve será preso, e a sua próxima obra, Niétotchka Niezvânova, vai já ser escrita na cela duma fortaleza.
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Enquanto estava procurando conteúdo sobre Dostoiévski para o especial que estou preparando, me deparei com o artigo abaixo tratando sobre a leitura de textos clássicos. Gostei do texto e quis compartilhar com vocês, espero que também apreciem, mesmo que seja para refutá-lo.
Fonte: ebookcult
Texto original: Classicos
Alta literatura mantém-se distante do grande público
apesar de especialistas defenderem a importância
de se conhecer as obras primas universais
Em 1991, os alunos dos cursos de letras clássicas e de civilização contemporânea oferecidos pela Columbia University, em Nova York, estranharam a presença de um aluno incomum. Tinha 48 anos, trabalhava como crítico de cinema da revista New York, era casado e pai de filhos. “Um homem sossegado na vida, mas que, mesmo assim, se sentia desassossegado de um jeito indefinido”, segundo ele. Seus colegas de classe, alguns com menos de 20 anos, achariam mais estranho ainda se soubessem que David Denby já havia feito aqueles dois cursos no inicio da década dos 60, quando era estudante da Columbia.
A primeira disciplina reunia “uma seleção-modelo de obras-primas da literatura européia”. A segunda fazia “uma seleção de obras-primas filosóficas ou de teorias sociais”.
Seguiam, em linhas gerais, os programas e as listas de leituras de trinta anos antes. “Ambos são cursos sobre ‘grandes livros’ ou, se você preferir, pesquisas sobre ‘civilização ocidental’ com uma série de grandes nomes colocados em ordem cronológica, como bustos de mármore num panteão de glória”, explica Denby. Em uma palavra: clássicos. Cânones. Mas o que teria levado alguém prestes a completar 50 anos a estudá-los de maneira sistemática?
Denby não queria apenas reler os “grandes livros”, mas também “saber como os outros estavam lendo – ou não estavam”. Durante o ano letivo, manteve sua rotina habitual. “O importante não era abdicar da minha vida, mas viver intensamente e ver como os livros se encaixavam nela”, explica. Fez, portanto, o que muitos outros adultos com sua formação se prometem fazer em algum momento de suas vidas – voltar às leituras “essenciais”. Suas motivações, bem como o relato daquele ano passado em companhia de velhos conhecidos, resultaram em Grandes Livros – Minhas Aventuras com Homero, Rousseau, Shakespeare, Marx e Outros Escritores Brilhantes (Record, 588 págs., R$ 55).
“A justificativa para exigir que todos fizessem esses cursos era bem clara: em qualquer área ou profissão, qualquer que fosse a glória ou o fracasso que o estudante de 18 anos iria enfrentar na vida, ele ou ela não podia desprezar essa arma”, observa Denby. “Eram aqueles os autores que formavam com mais força ‘o Ocidente’, eram aqueles os livros que falavam mais diretamente sobre o que um ser humano era ou podia ser. Deviam fazer parte da cultura de todos.”
É uma definição de clássico que se consagrou em círculos da chamada “alta cultura”, instalados sobretudo nos meios acadêmicos, e que abriga um juízo de valor: são livros que “devem” ser conhecidos de todos porque, supõe-se, carregam alguma espécie de conhecimento “obrigatório” para a compreensão da cultura ocidental ou, simplesmente, para a formação humanista de qualquer adulto.
Mas o raciocínio continuaria valendo no alvorecer da chamada era da informação, com o surgimento de gerações cujos hábitos de leitura se resumem apenas ao consumo de textos facilmente digeríveis, oferecidos em boa parte pela internet, essa infindável cadeia de fast-food do conhecimento?
Outros dois livros ajudam a iluminar alguns dos principais aspectos dessa questão: Por Que Ler os Clássicos, de Ítalo Calvino (Cia. das Letras, 280 págs., R$ 26,50), e Como e Por que Ler, de Harold Bloom (Objetiva, 276 págs., R$ 29,90). Calvino apresenta quatorze “propostas de definição” para os clássicos, mas, no final do artigo que batiza o livro, diz que deveria reescrevê-lo “para que não se pense que os clássicos devem ser lidos porque ‘servem’ para qualquer coisa. A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos”.
Seu livro reúne ensaios que revisitam alguns de seus autores preferidos, de Homero (séc. VIII ou IX a.C.) e Xenofonte (séc. V a.C.) a Ernest Hemingway (1899-1961) e Jorge Luis Borges (1899-1986), em busca do que mais lhe atraia neles.
Bloom, um dos mais respeitados (e polêmicos) críticos literários em atividade, é um pouco mais pretensioso. Suas análises de contos, poemas, romances e peças teatrais têm o objetivo de “ensinar a ler”. O próprio Calvino (1923-1985) figura entre os autores de obras examinadas por ele, ao lado de gente habitualmente perfilada em listas de
clássicos ocidentais – Shakespeare (1564-1616), Cervantes (1547-1616), Dostoiévski (1821-1881), Marcel Proust (1871-1922), Thomas Mann (1875-1955) – e de escritores de língua inglesa cujo reconhecimento fora dos países anglo-saxões é menor, como Emily Dickinson (1830-1886) e Flannery O’Connor (1925-1964).
O que une Bloom a Calvino, no entanto, é a negação de um caráter utilitarista para os clássicos e, em um sentido mais amplo, para a literatura. “O prazer da leitura é pessoal, não social”, diz. “Não se consegue melhorar – diretamente – as condições de vida de alguém apenas tornando-se um leitor mais competente. Sou cético com relação à expectativa tradicional de que o bem-estar social possa ser promovido a partir do aumento da capacidade de imaginação das pessoas, e desconfio de qualquer argumentação que associe o prazer da leitura solitária ao bem público.”
Um de seus “princípios” para o “resgate da leitura” é o de “não tentar melhorar o caráter do vizinho, nem da vizinhança, pelo que lemos ou de como o fazemos. O auto-aperfeiçoamento é projeto suficientemente grandioso para ocupar a mente e o espírito”.
“Lemos, intensamente, por várias razões, a maioria das quais conhecidas: porque, na vida real, não temos condições de ‘conhecer’ tantas pessoas, com tanta intimidade; porque precisamos nos conhecer melhor; porque necessitamos de conhecimento, não apenas de terceiros e de nós mesmos, mas das coisas da vida. Leia plenamente, não para acreditar, nem para concordar, tampouco para refutar, mas para buscar empatia com a natureza que escreve e lê”, propõe.
Esse discurso em torno dos clássicos teria a capacidade de convencer alguém a os ler? “Supondo que eles tenham importância, não creio ser possível convencer ninguém disso”, afirma o crítico literário Marcelo Pen, que escreve para a revista Carta Capital, entre outras publicações. “É tão impossível convencer alguém de que os clássicos têm valor quanto fazer um ateu convicto adotar de inopino uma religião. Não há argumentos lógicos nem nenhum blablablá de professor capaz de mudar isso”, acredita.
“Se o professor sugere que o aluno leia Dom Casmurro ou Sagarana, a maioria da classe vai execrar, ler um resumo ou pedir os pontos principais da análise para um colega. Um ou outro, porém, ficará fascinado. Por quê? Por que alguém se empolga com o caso de Capitu e passa a defender ou acusar Bentinho? Por que alguém tem calafrios na alma com o duelo de faroeste em que se envolve Augusto Matraga?” Pen desconfia que a resposta tenha algo a ver com o comportamento de nossos antepassados remotos que “se sentavam em uma praça, em torno da fogueira, sob a luz das estrelas, enquanto ouviam, entre maravilhados e aterrorizados, alguém desfiando histórias de deuses e monstros, heróis, morte e ressuscitamento”.
Há algo nessas narrativas, sustenta ele, que “nos empolga e que nos faz ser de novo arianos sentados na fronteira da Índia, gregos encarapitados em rochedos áridos sob o céu azul”. Se o leitor a quem se recomendou a leitura de um clássico não sentir isso, nada feito. “Ele não vai gostar de nenhum desses grandes livros, a despeito de todos os argumentos sobre como a leitura edifica o homem, como é indispensável para o nosso futuro, como separa o homem da besta-fera e o vencedor do perdedor. Sabemos que nada disso é verdade. Que livros leu grande parte de nossa elite, a parcela bem-sucedida da sociedade, ainda que isso diga mais a respeito de nossa elite do que dos livros não lidos?”
O escritor Marcelo Coelho, cronista da Folha de S. Paulo e autor de Jantando com Melvin (Imago, 168 págs., R$ 16) e Trivial Variado (Revan, 190 págs., R$ 22), também acha difícil convencer alguém a ler os clássicos. “Muitos exigem que o leitor mergulhe na leitura, o que só se faz quando se tira um mês de férias em lugar tranqüilo. Depois, se a pessoa vai achando chato, não há como”, diz. “Às vezes compensa. Dr. Fausto, de Thomas Mann, demora muito a engrenar. É bem chato, nesse sentido, mas vale a pena. Outras vezes, o livro impõe exigências – de vocabulário, de cultura geral, de atenção a sutilezas – que a pessoa não necessariamente está preparada para responder.”
Nessas situações, corre-se o risco de provocar um “trauma” no leitor, que passaria a ter uma espécie de “fobia” a clássicos. Coelho lembra que teve seu “trauma” com Os Irmãos Karamazov. Aos 15 anos, quando precisou ler o livro até o fim, achou-o “chatíssimo”. “Até hoje Dostoiévski – que admiro muito – é uma ‘pedreira’ para mim. Mas acho que, além de trauma, existe tabu. A gente simplesmente não tem coragem de ler os ‘grandões’ – Virgílio (70-19 a.C.), Dante (1265-1321), Goethe (1749-1832). Deixa para algum dia. Mas eu me lembro de há muito tempo ter tomado a decisão de, aos poucos, ir ‘enfrentando’ esses monstros. Dá pra ler, sim, e eles são muito melhores do que o simples nome deles sugere.”
Coelho observa que a literatura de consumo esgota-se nos efeitos que produz. “Uma vez lida, você se diverte, sabe quem é o assassino, dá risada e pronto, como uma piada que não tem interesse se já a conhecemos”, diz. “O clássico seria o oposto disso, aquele livro cujos efeitos não se esgotam nem na primeira, nem na segunda, nem na terceira leitura, e por isso sempre pode ser relido – o que é feito, aliás, pelas novas gerações.”
A professora Luciana Salgado, preparadora de textos do Projeto Editorial Cursinho da Poli e integrante do núcleo Confraria de Textos, propõe uma definição um pouco mais ampla. “Arriscaria dizer que clássico na literatura é o que uma comunidade cultural (o país, a classe socioeconômica, a área de atuação profissional) toma como referência, que conhece ou pelo menos menciona com certa naturalidade”, propõe.
“Vale, portanto, O Pequeno Príncipe, mesmo para quem nem tenha idéia de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). Não acho que haja ‘clássicos indiscutíveis’. Há um maravilhoso mar de histórias, há a inegável grandeza da experiência literária e há a irrevogável necessidade humana de pertencimento. A conjunção dessas coisas é que vai dando acenos do que de clássico há.”
Essa “conjunção” resvalaria inclusive no constrangimento social a que integrantes de certos grupos estariam submetidos por não conhecerem o que se supõe que devessem ter lido. “Acredito que se minta gostar disso ou daquilo porque é clássico. É a tal necessidade de pertencimento de que falava”, afirma Luciana. “Não condeno quem o faça. Talvez eu já o tenha feito, não sei. Os códigos intelectuais são tão coercitivos quanto quaisquer outros mecanismos civilizatórios e comunitários. Mas eu faria uma diferença entre os que mentem gostar do que não gostam e os que mentem gostar do que não conhecem. Acho ruim não conhecer. Acredito num aspecto positivo do constrangimento que possa levar a pessoa a querer saber, afinal, do que se trata. Às vezes, passa-se a gostar do que pareceu ruim num primeiro contato ou o inverso.”
Caberia primordialmente à escola a missão de propiciar o primeiro contato do estudante com os clássicos. Mas a leitura escolar compulsória, muitas vezes com base em listas de obras exigidas por vestibulares, pode contribuir para afastá-lo, em vez de aproximá-lo, além de reduzir o espectro de obras a conhecer. “Se a escola se pretende formadora de seres criativos, precisa dar a ler, contar por que é bom, mostrar quem leu, oferecer possibilidades e instigar comparações, o que depende de professores familiarizados com o processo, experimentados nesse exercício, com repertório farto não só de leituras canônicas, mas sobretudo de escolhas pessoais que engendram habilidades como o destemor da entrega a novos títulos e a escolhas distintas das que se tem por hábito supor evidentes”, observa Luciana. O que os exames vestibulares determinam, segundo ela, é só “um pedacinho de um pedaço daquilo que a escola pode passar anos fazendo”.
Há alguns anos, ela recomendou a alunos da terceira série do ensino médio a leitura, durante as férias de julho, de Brás, Bexiga e Barra Funda, de Antonio de Alcântara Machado (1901-1935), e Memorial do Convento, de José Saramago. “Achei que eles iam curtir o primeiro, rolar de rir etc., pois eram todos descendentes de italianos, e eu me preparei loucamente para o segundo, imaginando as mais diversas alegações para o abandono da leitura ou o repúdio a um livro com tantas dificuldades sintáticas e estéticas, além da sofisticação do conteúdo”, lembra. Surpresa: os alunos voltaram das férias “com uma paixão incrível pelo Memorial, quando Saramago nem estava na crista da onda, e cheios de má vontade com Alcântara, que acharam, a princípio, bobinho, fragmentado”.
Luciana sustenta que “temos de oferecer de tudo”. As “confrarias de leitores”, segundo ela, só podem existir porque “a leitura de Longe é um Lugar que não Existe, de Richard Bach, não impede a descida aos infernos de Dante”.
A professora Andréa Saad Hossne, autora de Bovarismo e Romance (Ateliê, 304 págs., R$ 25) e docente do departamento de teoria literária e literatura comparada no curso de letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, tem opinião semelhante. “A importância de se ler os clássicos é a mesma de se ler, eventualmente, títulos das listas dos mais vendidos: experimentar o fenômeno literário na sua maior abrangência possível, comparar, observar, formular o próprio juízo crítico, inclusive para ter condições de diferenciar o que corresponde puramente a um gosto pessoal, momentâneo, sujeito a ingerências que se distanciam da experiência estética, até a percepção do fascínio próprio de uma experiência estética que pode passar longe da preferência puramente pessoal, ditada pelo momento, pelo estado de espírito, ou seja lá o que for”, diz.
Na escola, Andréa recomenda ecletismo. “Se pudéssemos trabalhar com os nossos alunos tanto aquele romance infanto-juvenil que eles descobriram sozinhos, aquela história de Agatha Christie (1890-1976) que os fez ter vontade de ler ou o conto de Luís Fernando Veríssimo que viram adaptado para a TV, quanto Graciliano Ramos (1892-1953), estaríamos promovendo uma formação e não uma adesão a algo pronto”, acredita. Um equívoco básico que permeia o ensino da literatura em geral, segundo ela, é justamente o de “confundir a descoberta da leitura e de seu valor formativo, humano e estético, com a formação do critério de valor estético propriamente dito.”
Uma formação do gosto literário e do senso crítico que desconsidere as várias etapas da vida e as diferenças individuais só pode gerar mesmo problema, seja em que instância for”, analisa. “É preciso bom senso e não me parece bom senso dar José de Alencar para uma criança de 11 anos, como foi feito comigo e com toda a minha geração no fim dos anos 70. Mas daí a não se ler José de Alencar (1829-1877) nunca, de jeito nenhum, vai uma distância quase incalculável. Advogo o direito às pequenas indigestões, que advêm da curiosidade natural, da descoberta, da busca. Isso sim. Agora, aplicar um cardápio pronto sem considerar as especificidades etárias, no mínimo, é estupidez.”
O jornalista Adriano Schwartz, editor do caderno Mais!, da Folha de S. Paulo, também defende que, em relação a crianças e adolescentes, a preocupação deva ser a de que “a leitura aconteça, seja lá do que for, pois a tendência é que se vá, paulatinamente, se especializando, aprimorando seus critérios”. Além disso, ele acredita que existem “textos de Joseph Conrad (1857-1924), Herman Melville (1819-1891), Edgar Allan Poe (1809-1849), Machado de Assis (1839-1908), Franz Kafka (1883-1924) e Borges, por exemplo, dos quais seria muito difícil que alguém com um mínimo de boa vontade desgoste e, como esses, outros tantos”. Caberia ao educador, na avaliação de Schwartz, “limpar terreno, destruir bloqueios bobos e medos infundados, em suma, dar uma mãozinha para que o gosto do leitor se estabeleça com mais facilidade”.
No ano passado, Andréa Hossne participou da organização de um curso extracurricular, oferecido pelo seu departamento na USP, que “procurava resgatar em nossos alunos, a maioria professores do ensino médio, essa experiência de leitura, tão rica e decisiva, da ficção que está à margem do currículo escolar”.
“Surgiram, dos escombros de uma educação que tirou do ensino da literatura seu papel formativo, leitores argutos e confusos. Não sabemos como esse resgate vai operar na prática de ensino desse professor. Esperamos que seja algo positivo, que tanto reintegre a experiência da leitura espontânea, como motive para o conhecimento do imenso patrimônio das obras literárias já produzidas pela humanidade, algumas delas insistentemente acesas, e os leve, quem sabe, a perguntar por que algumas ficam acesas e outras se apagam como tênues chamas como o passar do tempo.”
A imagem tem a ver com sua definição de clássico, “movediça como a literatura em si mesma”. “Acredito que as obras clássicas sejam lâmpadas acesas, às vezes com maior ou menor vigor, mas o que faz com que sua circunferência se alastre pode ser das mais diversas ordens. Entretanto, a lâmpada permanece, até mesmo para ser violentamente atacada ou escondida.”
Aprendizado e prazer são as palavras-chave desse fenômeno, na opinião de Pedro Paulo de Sena Madureira, editor da Editora Siciliano, vice-presidente da Associação Brasil 500 Anos e conselheiro da Fundação Bienal.
“Clássico é aquele que se relê permanentemente, e não só aprendemos mais a cada leitura, como também temos mais prazer. É uma descoberta. Quanto mais ela for estimulada de forma aberta e democrática, melhor. É preciso oferecer coisas objetivas para que as pessoas façam as suas descobertas. Uma coisa é ler Padre Antonio Vieira (1608-1697) obrigado, e outra porque se acredita que será enriquecedor. Mas esse é um problema em todos os países. Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1821-1880), lido por jovens franceses, também é difícil. Eles lêem para passar de ano.”
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